Unir os artesãos da Brava na criação de riqueza para Cabo Verde
09 Ago 2016

Unir os artesãos da Brava na criação de riqueza para Cabo Verde

Silas dos Santos nasceu na Ilha Brava a 6 de maio de 1977. Consequência de uma personalidade rebelde, a infância do jovem Silas foi algo conturbada. Com 18 anos de idade foi cumprir o serviço militar na Ilha de São Vicente onde, pela primeira vez, descobre o gosto pelo artesanato. Desde então, tem feito da sua arte a sua forma de vida. Tem, nos últimos anos, percorrido a maior parte das ilhas do arquipélago promovendo e divulgando as peças que produz. Recentemente, regressou à sua ilha natal para tentar algo novo: criar a Casa da Cultura onde espera associar as suas obras ao outro artesanato produzido na Brava.

“Apenas produz artesanato quem possuir um dom para tal.” Esta é a opinião de Silas Santos, um jovem artesão nascido na Ilha Brava. No seu caso, o gosto pelo artesanato surgiu de forma natural através de experiências e vivências que foi colecionando ao longo das diversas viagens que tem feito pelas ilhas de Cabo Verde. A descoberta de materiais nativos às próprias ilhas e a sua adaptação e conjugação, têm contribuído decisivamente para consolidar a sua sensibilidade e a sua capacidade de execução. Tal como refere, “o simples contacto com os diversos materiais que vou encontrando nas ilhas do meu país, todos eles naturais e específicos a cada uma delas, tem contribuído para me interessar ainda mais pelo artesanato nacional”. Trabalha essencialmente com sementes naturais autóctones, como as sementes de tamborino, coquinho e manga, mas também utiliza búzios, pedras e até alguns ossos de animais, os quais conjuga e transforma em adornos, nomeadamente colares e pulseiras.

SIlas dos Santos

Viver da arte que produz é, para Silas Santos, possível, contudo, “exige bastante empenhamento” Conforme salienta, “é preciso conhecer as pessoas certas e estar presente no lugar e no momento corretos, pois, tal como no resto do mundo, é preciso ser-se conhecido para se ser valorizado”. A valorização do trabalho produzido é, para Silas dos Santos, fundamental para o artesão que, “sem o reconhecimento dos clientes, fica mais vulnerável à exploração. Apesar dos nacionais comprarem menos, têm mais sensibilidade e gratidão pelos nossos trabalhos. Os estrangeiros, apesar de pagarem mais, não os valorizam da mesma forma”, diz.

A dificuldade em conseguir matérias-primas e materiais complementares à produção das suas peças tem sido um dos principais obstáculos com que o artesão se tem vindo a debater. Muitos dos produtos que utiliza são importados, o que dificulta a criação das peças, tornando-as, em alguns casos, mais dispendiosas. A união de diversos artesãos, em diversas áreas, poderia ser uma das soluções para minimizar este constrangimento. Silas dos Santos é de opinião que, “através da compra coletiva, podiam-se diluir custos que, de outra forma, terão de recair individualmente sobre o artesão. Também a venda coletiva de vários produtos artesanais traria vantagens, uma vez que se conseguiria uma melhor divulgação dos trabalhos e assim melhores oportunidades para venderem os diversos produtos. Certamente que todos sairiam a ganhar”, afirma.

A criação de uma Casa da Cultura na Brava é, para o artesão, a solução para as dificuldades que os artífices bravenses enfrentam na produção e venda dos seus produtos. “Depois de conhecer a realidade dos artesãos nas diversas ilhas do arquipélago, constato que, aqui na Brava, é ainda mais difícil alguém viver desta atividade. Todavia, mesmo com poucos recursos, os artesãos da Brava não deixam de produzir os seus produtos. É a paixão que têm pelo artesanato que produzem que os impede de abandonarem a atividade, pois a falta de divulgação nas outras ilhas, especialmente nas mais vocacionadas para o turismo, é preocupante para quem se encontra afastado desses centros e vive apenas da sua atividade. Este foi, precisamente, um dos motivos que me levou a querer criar a Casa da Cultura aqui na Ilha Brava”, anuncia o artesão.

Artesanato - Ilha da Brava - Cabo Verde

Impulsionar o artesanato de Cabo Verde, e em particular o da Brava, é “vital para a sobrevivência dos artesãos e para a valorização da nossa cultura. O artesanato é uma das formas de representação da nossa ilha e, sem um empurrão inicial que motive o aparecimento de novos artífices, dificilmente haverá jovens a querer encarar o artesanato como forma de criar riqueza, perdendo-se assim uma das mais importantes representações culturais de Cabo Verde. Além do mais, o artesanato pode ser encarado como uma das atividades de combate ao desemprego e à marginalidade dos jovens. A Brava apresenta altas taxas de desemprego jovem e, apesar de ser uma ilha onde a delinquência juvenil ainda não é um problema grave, sem a ocupação profissional dos mais novos pode vir a tornar-se igual a outras ilhas, onde as taxas de alcoolismo, drogas e prostituição associadas às camadas mais jovens da população atingem já valores preocupantes. Como tal, penso que a concretização da Casa da Cultura seria uma mais-valia para os jovens bravenses e para Cabo Verde”, argumenta.

Para Silas dos Santos, “apostar mais na juventude e na criatividade dos cabo-verdianos é a chave para o sucesso do artesanato nacional. É necessária mais divulgação dos produtos nacionais e mais apoios financeiros para a criação de espaços que reúnam os artesãos, minimizando-lhes custos de produção e criando sinergias e motivações capazes de os impulsionarem nas suas atividades enquanto criativos. Não basta apoios morais. Não é preciso muito dinheiro, pois sempre fizemos as coisas com pouco”, e conclui dizendo que, “a nossa grandeza resulta precisamente do nosso pensamento positivo e de sempre termos acreditado nas nossas capacidades. É esta atitude que temos de ter também para o artesanato nacional. Por isso, desejo que os nossos artesãos nunca desistam do seu trabalho, pois em cada peça que fazem está um pouco de Cabo Verde e da força que nos carateriza enquanto cabo-verdianos. Como tal, desejo que continuem a surpreender o mundo, fazendo coisas boas e que tragam orgulho para a Brava e para Cabo Verde”.

Artesanato - Ilha da Brava - Cabo Verde


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