30 Set Vera Almeira – “Priorizar a mudança de mentalidades“
[su_spacer]
A terminar o seu primeiro mandato à frente dos destinos do município do Paúl, Vera Helena Pires Almeida da Cruz é uma mulher confiante no futuro do concelho. Apesar das debilidades intrínsecas do município, Vera Almeira está confiante que as políticas adotadas pela sua gestão, contribuirão de forma significativa para o desenvolvimento do município.
[su_spacer]
Quando se candidatou, em 2008, à presidência da Câmara Municipal do Paúl, apresentou um programa ao eleitorado. Considera que cumpriu todos os objetivos propostos?
Na íntegra. Apesar de nunca me ter guiado pela plataforma eleitoral para exercer a minha ação governativa, tenho plena consciência que a cumpri, e até mesmo, em alguns dos seus pontos, a ultrapassei. Sabia exatamente o que tinha que fazer, pois já tinha identificado todas as áreas que necessitavam de intervenção imediata, por isso não me preocupei em utilizar a plataforma como uma espécie de guião. Curiosamente, ainda há pouco tempo, na preparação da nova plataforma eleitoral para este ano, analisei as de 2004 e 2008, e constatei que as tínhamos cumprido na íntegra, tendo em muitos casos, feito muito mais do que inicialmente prevíamos fazer.
Quais os grandes desafios com que se deparou?
A questão da habitação social. Logo no início do mandato, já tínhamos um plano municipal para esta problemática. Entre a reabilitação e a construção, prevíamos atingir a meta das 80 a 100 casas. No final deste mandato, e apenas três anos volvidos, conseguimos intervir em 400 fogos, o que é quase um milagre. O nosso empenho foi tal, que, ao longo destes três anos, nunca tivemos a curiosidade de contabilizar o número de intervenções que vínhamos a realizar, pelo que, termos atingido esta cifra de 400 habitações, foi uma agradável surpresa.
Que outros projetos a deixam satisfeita com o desempenho da sua governação?
Um deles foi a construção de um gabinete de apoio à mulher. Foi um desafio pessoal. Acabou por ser o meu primeiro projeto. A quando da minha primeira deslocação à Praia, logo após ter sido empossada como Presidente da Câmara do Paúl, levei em mãos este projeto e assim que propus uma parceria com o Instituto Cabo-verdiano para a Igualdade e Equidade do Género, fui surpreendentemente defrontada com o facto de a Galiza pretender financiar um projeto nesta área. O projeto tinha por objetivo estudar a implementação de políticas locais com a perspetiva de género. Ao iniciarmos os trabalhos para a execução do projeto, tivemos que fazer um diagnóstico pormenorizado sobre os desequilíbrios e estereótipos existentes à volta da questão género, no seio da população.
[su_spacer]
[su_spacer]
A compilação de todas essas informações, forneceu-nos um instrumento importantíssimo, do qual resultou o Plano Municipal para a Igualdade de Género. Até ao momento, este é o único plano do tipo existente em Cabo Verde. Tem-nos permitido trabalhar, acima de tudo, a mentalidade das pessoas. A nossa primeira preocupação na implementação do projeto, foi atuar ao nível da autoestima da população – principalmente das mulheres, que tinham uma autoestima muito baixa – por isso, em vez do Gabinete de Apoio à Mulher, decidimos alargar o âmbito da nossa intervenção e implementámos o Gabinete para a Promoção da Igualdade de Género, que envolve também o homem, o que nos possibilitou atingir os resultados esperados, mas de forma mais simples e rápida. Hoje temos um gabinete que funciona muito bem e que tem vindo a desempenhar um importante papel na igualdade de género, aqui no concelho do Paúl.
Qual o peso da participação dos munícipes, por via das obrigações fiscais, para a realização desses projetos?
Não é possível fazer todas estas obras e projetos no âmbito das contribuições fiscais. Para se ter uma noção, num ano conseguimos arrecadar, de uma forma faseada ao longo do ano, cerca de 8 mil contos em impostos e taxas. Por aqui se vê que seria impossível, por essa via, concretizar todos estes programas.
Como fazem para conseguir o resto das verbas necessárias?
Temos uma relação institucional muito forte, e não me refiro a relações entre a comunidade internacional e o Estado. Dou um exemplo: conseguimos reabilitar, com o apoio da cooperação portuguesa, a construção de um bairro social com sete moradias construídas de raiz e dez reabilitações. Seria impossível realizar esta obra com base nas receitas municipais. Também reabilitámos o ancoradouro de Penedo de Janela – uma zona fundamentalmente piscatória – com o apoio de uma ONG dinamarquesa.
[su_spacer]
[su_spacer]
A plataforma eleitoral apresentada resulta das minhas convicções, pois encarei-a como um desafio pessoal. Além disso, acredito na viabilidade do Paúl, apesar de ter a noção que o município depende, em mais de 70%, do Fundo de Financiamento Municipal. É suposto conseguirmos arrecadar os restantes 30% com fundos próprios, mas ainda não temos essa capacidade.
Quais são as principais atividades económicas do Paúl?
O Paúl vive essencialmente da agricultura. Mas se por ventura, algo não corre como o esperado, como por exemplo prolongados períodos de seca, os agricultores são os primeiros a dizer que não têm possibilidades de pagar a décima, ou que apenas a pagam se for de forma parcelada. Há ainda quem peça a avaliação dos prédios urbanos e rústicos por acharem que o valor dos impostos é muito elevado. Não entendem que, sem essas pequenas contribuições, não temos possibilidade de sobreviver.
Todos os dias temos pedidos de auxílios para a compra de medicamentos, para a reabilitação das casas, para a escola, transportes, propinas, kits escolares…. enfim, um cem número de coisas, muitas das quais precisam de respostas imediatas. Há, por isso, todo um trabalho de sensibilização que temos de fazer, por forma a que as populações entendam o nosso papel na governação e contribuam, na media do possível, para a sustentabilidade do bem comum.
Quais são as grandes debilidades do seu concelho?
Um dos grandes problemas com que nos deparamos é o desemprego. As pessoas dependem das frentes de alta intensidade de mão-de-obra e nem sempre é possível obterem trabalho nessa atividade. Há ainda a mentalidade que só se é empregado quando se trabalha para o Estado. Se por ventura trabalharem numa outra atividade, consideram-se desempregados. As pessoas ainda têm uma mentalidade muito assistencialista, com medo de arriscarem.
[su_spacer]
[su_spacer]
Possuímos ainda um fenómeno social preocupante: o alcoolismo. No âmbito do plano para a Promoção da Igualdade de Género, estamos a conseguir reduzir este flagelo. Através da formação de formadores locais, conseguimos que eles formassem mais de 90 agentes comunitários que, por sua vez, sensibilizam as populações para os problemas do álcool. Registámos com satisfação já os primeiros resultados, com a diminuição desta problemática no concelho.
Que medidas estão a ser tomadas para diminuir esse número de desempregados?
Antes de qualquer ação sobre a economia, temos que tentar mudar a mentalidade das pessoas. As pessoas têm que entender que a Câmara Municipal não pode ser o “chefe de família” de 1656 famílias. Há que incentivar as pessoas a integrarem a economia local, a tornarem-se proativas, a fomentarem a sua própria profissão e a acabarem, de uma vez por todas, com a ideia que tem de ser a autarquia a dar proteção social em tudo o que pretendam realizar.
No entanto, para as pessoas serem autossuficientes, têm que ter formação e algum tipo de especialização, nas áreas em que pretendam operar. Será que as pessoas estão preparadas para poderem atingir o patamar de autossuficiência?
Por ainda não se encontrarem preparadas para, de forma autónoma, atingirem esse patamar, é que estamos a trabalhar na melhoria da sua autoestima. No meu entender, a autoestima pessoal é uma condição essencial para o sucesso futuro.
Temos realizado várias ações de formação, através de parcerias que mantemos com a ADEI e com a Câmara do Comércio do Barlavento. Temos também realizado palestras em todas as comunidades, por forma a que as pessoas elevem a sua autoestima e se engajem no seu desenvolvimento pessoal.
A falta de pessoas qualificadas para desempenharem determinadas tarefas, não será um condicionamento para um país que pretende manter as suas taxas de crescimento? Não seria melhor temporizar mais estes objetivos, em prol de uma solidificação das bases, para elevar as competências das pessoas?
O problema é que essa temporização não é compatível com as necessidades atuais das pessoas. A solução que encontrámos, foi desenvolver ações de formação, em simultâneo com as ajudas pontuais, que de forma constante nos são solicitadas.
Dedicamo-nos em especial à juventude, para que no futuro não fiquem tão condicionados como estão atualmente os seus pais. Este não é um desafio apenas do Município do Paúl, é um desafio nacional. Entendemos que o problema da autoestima seja fundamental para a resolução desta dificuldade. As pessoas têm que se valorizar, sentirem-se úteis nas tarefas que desempenham, por mais insignificantes que possam parecer, pois só dessa forma se poderá criar uma unidade nacional em torno do desenvolvimento comum.
Quais os grandes desafios futuros para o Paúl?
Precisamos de ter um gabinete técnico devidamente equipado, para a implementação do PDM e dos Planos Detalhados. Precisamos igualmente de avançar definitivamente com o desenvolvimento turístico no Paúl. Em parceria com a cooperação espanhola, precisamos trabalhar a reabilitação dos caminhos vicinais, que são estratégicos para a expansão turista da região.
Como somos um município essencialmente agrícola, esperamos poder vir a investir ainda mais nas nossas comunidades rurais, continuando a insistir na estratégia de priorizar a mudança da mentalidade das pessoas. Se quisermos apostar no turismo de habitação, como é nossa intenção, teremos que ter pessoas capazes de intervir proativamente no fomento da atividade agrícola, e esta mudança de algumas mentalidades, mostra-se essencial, para levarmos a bom porto estes nossos intentos.
Queremos continuar a apostar na formação profissional, com especial atenção na área agrícola, pois não há uma grande apetência por parte das camadas mais jovens para continuar a desenvolver a atividade.
Queremos continuar a fomentar o empreendedorismo. Inclusive, temos planos aprovados e financiados para o incentivo do empreendedorismo nas escolas e na criação de microempresas familiares. Estes programas vão ser fundamentais para as pessoas deixarem de depender das frentes de alta intensidade de mão de obra como forma de obterem os seus rendimentos.
Finalmente a questão da habitação. Iremos continuar a apostar na reconstrução e construção de novas habitações sociais. Apesar de termos recuperado cerca de 400 fogos, ainda continuamos com um défice habitacional muito elevado. Para nós, esta é uma prioridade de base, pois mexe com todo o resto. Sem uma habitação condigna, é difícil pedirmos às pessoas para atingirem os objetivos a que nos propomos, em prol do crescimento e do desenvolvimento do concelho.
Sorry, the comment form is closed at this time.