Vanusa Cardoso – FCS: Juntar sinergias para o desenvolvimento de Cabo Verde
04 Abr 2015

Vanusa Cardoso – FCS: Juntar sinergias para o desenvolvimento de Cabo Verde

Aos 34 anos de idade, Vanusa Cardoso tem já um sólido percurso na vida política do país. Deputada do PAICV eleita pelo círculo de Santiago Norte e atual líder da Juventude do Partido Africano da Independência de Cabo Verde (JPAI), sempre encarou a política como o veículo perfeito para o ativismo social. O combate efetivo à pobreza, a redução das desigualdades sociais e o desenvolvimento do país, encabeçam a lista de prioridades da atual presidente da Fundação Cabo-verdiana de Solidariedade.

 

Natural da Assomada, na Ilha de Santiago, Vanusa Cardoso sempre se identificou com os valores e princípios ideológicos do partido pelo qual foi eleita, em 2010, deputada à Assembleia Nacional. A sensibilidade que, desde cedo, revelou para as problemáticas sociais, encontrou na vida política um veículo capaz de alimentar a sua contribuição para a causa pública, especialmente no que às questões sociais diz respeito. Licenciada em Comunicação Social, Vanusa Tatiana Fernandes Cardoso sente-se motivada para, na sua missão à frente dos destinos da Fundação Cabo-verdiana de Solidariedade (FCS), “servir o povo de Cabo Verde e trabalhar para driblar os problemas sociais que preocupam toda a sociedade cabo-verdiana”.

Apesar de ser uma instituição de direito privado de utilidade pública, a FCS foi criada pelo Estado de Cabo Verde na sequência da extinção do antigo ICS – Instituto Cabo-verdiano de Solidariedade. Tem como principais objetivos o desenvolvimento de atividades de solidariedade ligadas à proteção infantil, a assistência e apoio à terceira idade, a promoção de habitação condigna para famílias social e economicamente vulneráveis e o combate à pobreza. Conforme diz a presidente da FCS, “a solidariedade é uma área bastante vasta que, além de atender todo o tipo de situações em famílias com poucos ou nenhuns recursos, abrange igualmente projetos estruturados de caráter permanente e de âmbito nacional no domínio da habitação condigna, da proteção infantil e também no apoio nutricional.” Estas três grandes áreas de intervenção da FCS são maioritariamente financiadas pelo Governo de Cabo Verde através do gabinete do primeiro-ministro e resultam da descentralização de algumas das funções do Estado. “São projetos que estão enquadrados nos documentos estratégicos de redução da pobreza e no desenvolvimento de Cabo Verde, acabando a Fundação por ser um instrumento do Governo na execução dessa estratégia”, diz Vanusa Cardoso.

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A FCS tem abrangência nacional e está presente em seis ilhas do arquipélago, nomeadamente, Santiago, Fogo, Santo Antão, São Nicolau, Sal e São Vicente. Tem ainda fomentado algumas iniciativas na diáspora, concretamente em São Tomé e em Moçambique, onde através do programa Operação Esperança, tem permitido a reabilitação de casas a cabo-verdianos que vivem em situações de carência graves. Segundo a presidente da FCS, “estas foram experiências muito positivas que, certamente, irão ser repetidas em outras comunidades cabo-verdianas fora do país. Temos um projeto concreto para a comunidade na Guiné-Bissau que só ainda não se iniciou devido à conturbada situação política que a Guiné atravessa, mas assim que houver oportunidade, a nossa comunidade em Bissau também receberá o apoio da FCS”.

Além do programa Operação Esperança, a FCS está igualmente empenhada no desenvolvimento de projetos ligados à proteção infantil. Além dos onze parques infantis distribuídos pelas seis ilhas onde opera, a FCS mantém e promove os programas criados em 1976 para apoio a órfãos e a crianças mais vulneráveis, particularmente àquelas infetadas ou afetadas pelo HIV-SIDA. “Ao nível do apoio escolar para crianças vulneráveis, trabalhamos com o financiamento do Fundo Global para o HIV. Atualmente, trabalhamos com 17 dos 22 concelhos de Cabo Verde. Temos também um programa para mães seropositivas que, devido à doença, não conseguem trabalhar ou não têm emprego. Este programa contempla ainda a subsidiação de leite artificial para aquelas mães que, condicionadas pela doença, não podem amamentar”, descreve Vanusa Cardoso. Também ao nível do apoio a crianças vulneráveis, a FCS possui ainda dois Centros de Acolhimento para crianças em idade escolar, frequentados no período contrário às aulas.

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Ao nível de intervenção comunitária, e em parceria com a Aldeias SOS Cabo Verde, a FCS mantém um Centro de Intervenção Comunitário no bairro do Brasil, cujo foco de ação se centra na prevenção e combate à mendicidade infantil. Além deste eixo de atuação, o Centro desenvolve ainda programas ao nível da assistência médica, medicamentosa e ações de formação alargadas às famílias. Tal como explica Vanusa Cardoso, “Após a realização de um diagnóstico à situação da criança e da sua família, podemos optar por intervencionar áreas específicas de atuação, desde o apoio escolar, à saúde, passando pela alimentação e acesso à formação. O nosso objetivo é garantir que, em última análise, exista uma efetiva proteção infantil das crianças nesses bairros problemáticos”.

Outro dos eixos de intervenção da FCS é o auxílio alimentar a famílias extremamente pobres ou a pessoas incapacitadas. Este programa contempla o fornecimento mensal de cestas básicas sem as quais a sobrevivência desses grupos carenciados estaria fortemente comprometida. São ainda beneficiários desse apoio pessoas que, não sendo incapacitados, atravessam um período difícil na vida, como por exemplo o falecimento do chefe de família ou a perda de rendimentos do agregado familiar devido a uma situação inesperada de desemprego ou de doença grave. “Nestes casos, apoiamos com cestas básicas pontuais que, conforme o diagnóstico, podem ser mantidas ou substituídas por outro tipo de apoios mais adequados à necessidade pontual da família. Ao mesmo tempo, trabalhamos com os elementos do agregado familiar no sentido de poder reverter a situação o mais célere possível”, salienta a presidente.

Estas três grandes áreas de intervenção da Fundação Cabo-verdiana de Solidariedade e cuja abrangência dos seus programas se estende a todo o território nacional, têm um custo de 120 mil contos anuais e representam a maior fatia do orçamento da instituição. Há, depois, outros programas que complementam estas grandes áreas e que, embora não tenham intervenção exclusiva da FCS, recebem o seu apoio. É o caso dos programas direcionados aos problemas que afetam a juventude, nomeadamente o consumo de álcool e de drogas. A este nível, a FCS em parceria com o Ministério da Justiça, Ministério da Juventude e algumas ONG’s, coopera em programas e projetos pontuais, no entanto, prevê alargar o âmbito de ação e está atualmente a preparar uma missão técnica ao Brasil para conhecer algumas experiências de trabalhos comunitários desenvolvidos em bairros mais vulneráveis e que têm mais fatores de risco associados ao consumo de drogas e ao álcool. Este projeto irá incidir essencialmente nas questões relacionadas com a prevenção e a reinserção social.

O grupo dos idosos é outra das preocupações da FCS. Através de parcerias com ONG’s e instituições que trabalham esta faixa etária, nomeadamente ao nível do acolhimento diurno, a FCS coopera no fornecimento de assistência médica e medicamentosa, nutricional e sempre que houver necessidade de um acompanhamento especializado na residência do idoso. Apesar de atualmente a Fundação não possuir lares de acolhimento próprios para este grupo etário, essa possibilidade está a ser equacionada. “Fruto da redução da população infantil, muitas das estruturas de apoio ao pré-escolar que a Fundação possui podem vir a ser reconvertidas para apoio à terceira idade”, refere Vanusa Cardoso.

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Atualmente, a FCS encontra-se numa fase de restruturação e modernização interna. A ligação em rede de todos os serviços geridos pela organização é, a curto prazo, a grande aposta da instituição. “Somos um país arquipelágico e a insularidade encarece significativamente o funcionamento e a execução dos projetos, daí que a grande aposta interna da FCS seja ao nível das tecnologias de informação sem, contudo, esquecermos a capacitação dos nossos colaboradores”, adianta a presidente.

Mas nem só ao nível organizacional da instituição se preveem alterações, ao nível do perfil dos seus utentes também estão previstos novos beneficiários. A aguardar parecer jurídico, está já preparado um protocolo de cooperação com as Forças Armadas de Cabo Verde no qual, se prevê o arranque de ações de formação profissional a jovens e cidadãos que se pretendam requalificar. Vanusa Cardoso vê nesta cooperação a oportunidade de as duas instituições resolverem, de uma vez só, um problema que se arrastava há bastantes anos e afirma que “a Escola Militar das Forças Armadas possui a valência de Formação Profissional, com toda a direção e equipa pedagógica vocacionada para a formação. A FCS tem o espaço São Jorginho onde já funcionaram os antigos programas de Formação Profissional do então. A ideia é fazer o casamento entre as duas valências, aliando o conhecimento e preparação da Escola Militar às infraestruturas e equipamentos que possuímos. Com esta parceria, conseguimos que a Fundação retome os seus programas de Formação Profissional sem ter que suportar sozinha o custo de ter uma escola profissional a funcionar e, por outro lado, permite às Forças Armadas resolver o problema da falta de instalações para a Escola Militar.”

Esta cooperação irá estender-se também ao setor da saúde, com as Forças Armadas a disponibilizarem técnicos e médicos especializados capazes de reforçar a atuação da FCS junto das comunidades que carecem destes serviços básicos.

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Continuar a resolver o problema do défice habitacional qualitativo e conciliar esse objetivo com a criação de postos de trabalho para os mais jovens, são dois dos desafios que a atual presidente da FCS pretende dar continuidade. “Queremos continuar a aproveitar o efetivo de jovens que saem da Formação Profissional para trabalhar a nível do projeto Operação Esperança. A este nível, já tivemos algumas experiências positivas, com resultados muito satisfatórios na ilha de Santiago e S. Vicente. A perspetiva para 2014 é alargar este conceito para outras ilhas do arquipélago. Aliar o problema da habitação com a resolução do problema do desemprego jovem, que é um problema que estamos a enfrentar neste momento em Cabo Verde será, sem dúvida, uma das prioridades a curto prazo da FCS.”

Atenta ao flagelo do problema do desemprego que afeta a sua geração, a jovem presidente é de opinião que, “a requalificação profissional e a adequação do ensino às reais necessidades do mercado é um imperativo em Cabo Verde. É com esta visão que a FCS pretende alargar o seu âmbito de ação e resgatar os programas de Formação Profissionais que outrora ministrava, pois só assim os cabo-verdianos poderão realizar em pleno a sua integração regional, a sua africanidade e contribuírem para o pleno desenvolvimento de Cabo Verde, capacitando-o económica e culturalmente como um país pleno de oportunidades para todos”.


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Comentários

  1. Ricardo Menezes Diz: Agosto 23, 2016 at 9:23 pm

    Olá Vanusa Cardoso
    Boa tarde

    Venho por esse meio dar-lhes os parabéns pela vossa revista que acabo de conhecer. Não pude deixar de escrever essas linhas pelo vosso empenho na cultura desse lindo país.

    Melhores cumprimentos
    Ricardo Menezes

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