Silvéria “Nita” Nédio – Formar, apoiar e capacitar as novas gerações
30 Jul 2013

Silvéria “Nita” Nédio – Formar, apoiar e capacitar as novas gerações

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Se falarmos de Silvéria Nédio, poucos são os que a reconhecem, mas se falarmos de “Nita”, então ninguém tem dúvidas a quem nos referimos. “Nita” é uma das mais antigas e experientes treinadoras e formadoras desportivas de Cabo Verde. 
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Nasceu em 1965 na Praia, Santiago. Com dez anos, “Nita” já praticava desporto. Apaixonou-se pelo andebol, modalidade que praticou por mais de 15 anos e na qual foi campeã nacional nove vezes. “Por brincadeira”, como gosta de dizer, ainda jogou futebol, mas como em Cabo Verde não existe futebol feminino, jogava apenas por prazer, com os amigos.

“Nita” é das mais antigas e prestigiadas treinadoras nacionais. Fez várias formações profissionais com a FIFA e com a CAF. Estas formações incentivaram-na a formar uma escola de futebol. Começou a trabalhar com crianças dos oito aos quinze anos. Atualmente, além de formar crinças nos escalões mais jovens do futebol nacional, está também a preparar jovens do campeonato de futebol de sub-17.

Mas nem só de futebol são feitas as aulas da treinadora. A ginástica rítmica é outra das modalidades a que “Nita” se entrega de corpo e alma. Com uma formação especializada obtida em Espanha, “Nita” leciona atualmente os escalões mais jovens da modalidade (crianças dos quatro aos doze anos), algumas das quais participam no campeonato nacional. Também na ginástica rítmica “Nita” formou campeões, com o feito mais notável a ser obtido no Senegal, onde uma jovem atleta conquistou a medalha de ouro para Cabo Verde.

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Nita Silvério

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“Nita” nasceu para o desporto. Tal como refere, “muitos vão para o desporto porque não têm oportunidades noutras atividades. Não foi o meu caso; acabei por escolher o desporto, pois era algo que desde sempre me apaixonou.” Quando na década de oitenta jogava andebol, os seus colegas complementavam a prática desportiva com outras atividades laborais. “Nita” não fazia parte desse grupo, pois mesmo sem receber qualquer vencimento, a sua dedicação pela prática da modalidade era em regime de exclusividade. Só após cinco anos a trabalhar como atleta profissional é que “Nita” recebeu o seu primeiro vencimento: cinco mil escudos. “Nessa altura, fui fazer uma formação de ginástica rítmica em que estavam presentes cerca de quarenta mulheres. Quando souberam que após a formação não iriam receber vencimento desistiram todas, exceto eu. Pelo desporto sacrifiquei mesmo os meus estudos, pois não tinha dinheiro para frequentar o ensino, mas para mim, se tivesse que nascer de novo, a minha escolha seria, sem qualquer margem para dúvida, novamente o desporto”, relembra a treinadora.

Fruto dos bons resultados que a seleção nacional de futebol tem vindo a alcançar, a modalidade tem tido mais visibilidade e isso tem-se visto pela quantidade de crianças que, cada vez mais, frequentam os escalões de formação. Sobre este bom momento do futebol nacional, “Nita” não tem dúvidas que se deve ao excelente trabalho que tem sido feito, quer ao nível da Federação Cabo-verdiana de Futebol, quer ao nível da formação de atletas. Conforme recorda, “há cinco ou seis anos atrás, já havia bons treinadores e bons jogadores, muitos deles a trabalharem sem grandes condições, no entanto, quando acabavam as suas carreiras como atletas, não tinham perspetivas futuras em termos de conseguirem uma carreira profissional fora do desporto.”

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Nita Silvério

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Também no que diz respeito aos treinos, tem-se registado uma evolução muito positiva. Segundo a treinadora, “antigamente apenas se trabalhava para determinada competição; não havia uma continuidade nos objetivos a alcançar. Hoje em dia, o trabalho realizado obedece a uma estratégia. Trabalha-se mais para uma continuidade e regularidade e não tanto para se alcançar um resultado num determinado jogo. As escolas de formação também alteraram muito a modalidade. Antigamente, os rapazes iam para o futebol com 19 ou vinte anos, muitos sem qualquer perspetiva futura de carreira, pois faltava-lhe toda a retaguarda técnica. Atualmente, as crianças que praticam futebol e que frequentam as escolas, têm uma margem para aprender muito. Muitas começam com seis anos, o que quer dizer que quando atingem os doze anos, já sabem fazer drible e passes com muita qualidade técnica, o que lhes irá permitir encarar a carreira de futebolistas com muito mais perspetivas futuras de continuidade”, e conclui dizendo que, ” se houver mais escolas e pessoas capacitadas para ensinar, acredito que o futebol cabo-verdiano também evolua proporcionalmente”.

Também os recursos atualmente disponibilizados para a prática da modalidade são determinantes para os resultados que se têm atingido. Conforme afirma a treinadora, “as condições atuais são bem melhores que as que haviam há uns anos, no entanto ainda estamos longe das condições ideais. Eu gostaria muito de ter uma baliza com rodas que a pudesse deslocar de um lado para o outro, gostaria muito de ter uns bonecos de plástico a fazerem de barreiras para treinar os dribles, mas como não os posso ter, tenho que trabalhar com o que tenho”, lamenta a formadora.

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Nita Silvério

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Apesar de as condições de formação ainda estarem aquém das de muitos países africanos que investem fortemente na formação das suas camadas mais jovens, a treinadora está confiante nos atletas que está atualmente a formar. “Tenho atualmente uns oito ou nove alunos muito bons dos quais iremos certamente ouvir falar no futuro. Apenas lamento que não tenhamos mais possibilidades para os acompanhar mais de perto. Acho que está na altura de se pensar seriamente numa academia onde pudéssemos acompanhar permanentemente os futuros talentos da nossa seleção. Com uma escola deste tipo, os jogadores de elite estariam verdadeiramente focados no seu desempenho e os treinadores estariam preocupados com questões mais estratégicas do que técnicas, uma vez que os jogadores provenientes dessa academia dominariam as questões técnicas”, e dá como exemplo a atual seleção cabo-verdiana de futebol, “em que os seus jogadores tiveram que fazer o seu percurso em outros países, pois cá ninguém queria saber deles… apenas começaram a ouvir falar deles quando eles já estavam a fazer carreira em Portugal, na França, na Holanda ou em Angola”, por isso “Nita” é da opinião que o Estado cabo-verdiano, através da Federação Cabo-verdiana de Futebol, “deveria aproveitar os resultados gerados por esta onda de apoio aos Tubarões Azuis e formar uma academia que pudesse acompanhar os muitos talentos que temos e que precisam de acompanhamento, para assim se poder dar continuidades aos bons resultados que a seleção cabo-verdiana está a obter. “

Apesar de gostar imenso de ensinar futebol, o que mais motiva “Nita” é a formação dos mais jovens na ginástica rítmica. Tal como diz, “os meus alunos mais pequenos são tudo para mim, pois temos que dar o máximo nós. Na ginástica rítmica temos que estar permanentemente com eles, pois são crianças muito pequenas, o que faz com que tenhamos que trabalhar mais. No futebol é mais fácil, pois de uma maneira geral, as crianças adaptam-se melhor, uma vez que o grau de exigência técnica na prática do futebol também é mais reduzido. Na ginástica, temos de trabalhar permanentemente a flexibilidade e o equilíbrio, pois como são muito jovens, os corpos estão em permanente mudança, e isso acarreta um desafio complementar”.

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Nita Silvério

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Continuar a se apostar nos escalões de formação, nas infraestruturas para a prática desportiva e na valorização dos atletas nacionais são os maiores desejos de “Nita”. O seu maior sonho? Trabalhar numa academia desportiva que fomentasse as modalidades e preparasse atletas de alto rendimento capazes de representar Cabo Verde nas maiores provas internacionais, pois tal como diz, “todos sairiam a ganhar, uma vez que nem todos podem ser engenheiros ou doutores; há aqueles que têm talento para o desporto e, como tal, deveriam ser acompanhados da melhor forma possível. A médio e longo prazo, o país também sairia a ganhar.”


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