12 Ago 2016
Revitalizar a “sorte” da Ilha Brava
Dedicamos a presente edição da revista Nós Genti à Ilha Brava. Quando comparada com outras ilhas que já visitámos a Brava apresenta, logo à partida, algumas particularidades, a começar pelo modo para lá chegar. Vindos da Praia, o destino tem direito a escala técnica — o voo faz-se só até à Ilha do Fogo e os restantes 17 quilómetros que nos separam do nosso objetivo têm de ser concluídos de barco. “Tivemos sorte, o mar até estava calmo!” — dizem-nos ao chegarmos ao porto de mar da Brava, na localidade das Furnas. Depois, até à cidade de Nova Sintra, a capital da ilha, são noventa e oito curvas sempre a subir numa prova de resistência aos veículos e às pessoas que os conduzem. Nova Sintra situa-se a mais de 550 metros de altitude, muito para além do teto de nuvens que, grande parte do ano, cobrem a maior parte da ilha. Rapidamente sentimos a mudança climática. A humidade omnipresente e o clima mais fresco irão fazer-nos companhia durante toda a nossa estadia. Uma vez mais dizem-nos que “até tivemos sorte, pois no inverno é pior”. Assumimos que a Brava é a ilha da “sorte”, pelo menos para nós porque, para os bravenses, as eternas discussões sobre a sua falta são como a humidade: omnipresentes! A falta de sorte com o emprego, a falta de sorte com os transportes, a falta de sorte com os recursos naturais, a falta de sorte com as infraestruturas e a falta de sorte por serem poucos. Tudo se resume à “falta de sorte”, por isso, procuram-na em destinos mais longínquos, principalmente nos Estados Unidos da América para onde emigra grande parte da sua população jovem.
Apesar desta aparente “falta de sorte”, apercebemo-nos que a Brava é uma ilha com potencialidades, sobretudo ao nível da agricultura, das pescas e dos serviços especializados mas, a pouca população jovem empenhada em as aproveitar, torna-a dissemelhante face a outras ilhas do arquipélago. Para os bravenses que ficam, as soluções para os problemas são uma miragem num oásis de dificuldades, não raramente concluindo que “a Brava apenas serve para se descansar e relaxar”. Pela escassez de investimento privado que presenciámos, quase que também ficávamos com esta ideia. Sem o importante papel do Estado na revitalização desta parte do país, talvez a Brava e os bravenses não consigam mudar a sua “sorte”. É urgente revitalizar a economia mas, também as mentalidades. Com uma população envelhecida e com os mais jovens a viverem na ansiedade de poderem abandonar a ilha, poucos são os que se aventuram em grandes empreendimentos e a Brava fica cada vez mais entregue à sua “sorte”.
No final da nossa viagem reparámos que já nos encontrávamos perfeitamente ambientados ao clima mais fresco da ilha. Notámos também que este clima era responsável pelo elevado grau de produtividade que sentimos nos quatro dias que nela passámos. O clima mais ameno da Brava pode bem tornar-se o seu fator de “sorte”, pois é diferenciador, o que a torna no local ideal para a criação de um polo económico vocacionado para, por exemplo, o setor do ensino. A par da revitalização da sua economia, este potencial polo económico seria igualmente capaz de rejuvenescer a sua população, alterar a sua mentalidade e, quem sabe, a “sorte” de todos os bravenses. Assim o desejamos.
Luís Neves
Diretor