30 Set 2012
Orlando Delgado – Ribeira Grande um concelho em permanente evolução
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Formado em engenharia civil pela Universidade de Coimbra, Orlando Rocha Delgado, sempre teve por objetivo contribuir para o desenvolvimento da ilha onde nasceu e se criou. Em toda a sua carreira profissional, viu-se sempre envolvido em projetos relacionados com o desenvolvimento e o bem-estar socioeconómico dos ribeira-grandenses. Foi coordenador do Gabinete Técnico Intermunicipal de Santo Antão e, desde 2005, assume o cargo de presidente da Câmara Municipal da Ribeira Grande.
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A Ribeira Grande é um concelho com aproximadamente 20 mil habitantes, disperso por 184 localidades. Conforme refere Orlando Delgado, “há uma grande dispersão da população. Temos duas cidades: a cidade de Ponta do Sol e a cidade da Ribeira Grande. A primeira desempenha essencialmente tarefas administrativas, embora possua uma valência piscatória muito grande, ao passo que a cidade da Ribeira Grande é essencialmente comercial. “
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Estas duas cidades albergam 25% da população da ilha. O mesmo é dizer que, 75% das pessoas vivem no interior dos vales ou nos planaltos de Santo Antão. É uma população essencialmente rural, dedicada fundamentalmente à agricultura, à suinicultura e à pecuária. Estes três eixos de desenvolvimento, absorvem mais de 75% da sua população.
Qualificação, uma referência a nível nacional
Com uma população jovem (dados do último censo apontam para uma percentagem de 60% da população com idade inferir a 25 anos), a Ribeira Grande, é exemplo a nível nacional, da importância que os pais atribuem à qualificação dos seus filhos. Conforme recorda o atual presidente da câmara, “antigamente para se estudar, tinha que se ir a São Vicente, pois não havia liceus em Santo Antão. O primeiro liceu apenas começou a funcionar em 1988, mas já nessa altura, no período das férias, o barco navegava cheio de jovens que iam estudar na ilha vizinha”, daí que, para os santantonenses, a qualificação dos seus recursos humanos seja motivo de grande orgulho. Talvez este seja um dos motivos para encontrarmos tantos técnicos oriundos de Santo Antão, um pouco por todas as áreas de direção e governação do país.
É necessário crescer em termos populacionais
Fruto do trabalho desenvolvido nos anos oitenta e noventa ao nível da planificação maternoinfantil, a atual taxa de mortalidade infantil em Santo Antão é praticamente inexistente. No entanto, o número de nascimentos tem vindo a cair drasticamente. Segundo dados de 2010, a Ribeira Grande perdeu, nos últimos anos, quase 3 mil pessoas. Conforme refere Orlando Delgado, “há locais, como por exemplo nas Fontainhas, cuja escola, por falta de alunos, este ano nem chegou a abrir”, e adianta que, “contrariamente à evolução que se verifica a nível nacional, na Ribeira Grande tem havido um decréscimo da população. Tem-se tendência a justificar esta diminuição da população, com facto de muitos jovens saírem de Santo Antão para estudarem noutras ilhas. Diz-se ainda que muitos outros vão para o Sal e Boa Vista à procura de emprego. O certo é que, quando se analisa os dados, verificamos que, é sobretudo na faixa etária inferior à dos 14 anos que a maior parte das perdas se regista. Segundo os últimos dados, e para esta faixa etária, perdemos quase 3200 jovens. Tal facto demonstra-nos que é a taxa de natalidade que tem vindo a diminuir. Teremos que repensar e debater os mecanismos ao nosso dispor, por forma a que a Ribeira Grande possa também crescer em termos populacionais”, adianta.
A gestão dos recursos financeiros
Relativamente à gestão dos recursos disponíveis para o desenvolvimento da região, o autarca adianta que “sobretudo nos últimos anos da década de noventa e início de dois mil, a cooperação holandesa – que fez um grande investimento na modernização agrícola e nas melhoria das infraestruturas de rega, conservação de solos e reflorestação – e a cooperação luxemburguesa – que investiu, sobretudo em infraestruturas de desenvolvimento social, a começar pela eletrificação – constituíram os grandes motores do desenvolvimento da Ribeira Grande. Em 1994 tínhamos uma taxa de cobertura elétrica na ordem dos 10% e atualmente, apesar da grande dispersão populacional, estamos com 95% do nosso concelho eletrificado. Tal permitiu fixar as populações nas suas localidades, potenciando desta forma o desenvolvimento das mesmas”, afirma.
Outro dos parceiros para o fomento do desenvolvimento é o governo, através da participação direta em grandes projetos de infraestruturação, tais como a construção de estradas, de hospitais e outros equipamentos públicos.
A coleta de taxas e impostos, é outra das fonte de receitas do município, no entanto, conforme adianta Orlando Delgado, “esta é uma fonte quase que irrisória tendo em conta o montante dos capitais investidos, pois tratando-se a Ribeira Grande de um concelho rural, os impostos são bastante reduzidos.” O Imposto Único sobre o Património, juntamente com as taxas municipais, contribuem aproximadamente para 15% do orçamento do município.
Os acordos que a câmara municipal mantém no quadro das geminações, também dão um contributo ao orçamento camarário. Conforme refere o governante, “a Ribeira Grande tem parcerias com municípios em Portugal, os quais têm prestado grande apoio ao nível do transporte escolar, na capacitação da nossa corporação de bombeiros e na sustentabilidade das unidades sanitárias de base.”
Setores que aguardam oportunidade
Há, no entanto, setores que apesar das excelentes condições para a sua implementação, estão ainda em fase embrionária. A indústria de transformação agroalimentar, com a produção de doces e licores – os quais já possuem um peso significativo na economia do concelho – é uma das áreas que promete, a curto prazo, impulsionar a economia da ilha. Numa parceria com a cooperação luxemburguesa, encontra-se atualmente em construção um centro agroindustrial, o qual permitirá dar um cunho semi-industrial a essa produção. Ao nível das localidades, existem ainda várias associações – as associações de desenvolvimento comunitário – que procuram captar associados capazes de dar esse salto qualitativo, fundamental para o futuro do setor.
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Contudo, e conforme refere o autarca, “é sem dúvida na agricultura, na pecuária e nas pescas que a Ribeira Grande tem que apostar, apesar de nas pescas possuirmos ainda muitas limitações, pois não possuímos um porto de pesca e sem esse equipamento não poderemos transformar essa atividade num modelo semi-industrial. Temos que nos cingir a uma pesca artesanal, baseada em botes que não se podem afastar muito da costa, reduzindo-nos desta forma a uma pesca essencialmente de subsistência”, e remata afirmando que, “o porto de pesca é uma necessidade do concelho. Tal permitir-nos-ia dar um salto qualitativo em termos de industrialização, contribuindo decisivamente para a diversificação e desenvolvimento económico da classe. Penso que seja o momento certo para se investir nessa infraestrutura, que traria grande desenvolvimento ao concelho da Ribeira Grande”.
A saúde e a educação
Relativamente à saúde, a Ribeira Grande é um concelho bem equipado. Possui um hospital regional, postos sanitários distribuídos por várias freguesias e, a um nível mais local, possui uma rede de unidades sanitárias de base, estas diretamente da responsabilidade da Câmara Municipal. Para o atual presidente da câmara, “há uma grande consciencialização por parte das populações para as questões relacionadas com a saúde. Não é por acaso que, apesar de Cabo Verde, ao longo da sua história, já ter sofrido algumas epidemias, a Ribeira Grande tem-se mantido imune. Possui inclusivamente estruturas que fazem o acompanhamento e monitorização permanente das populações”, que é precisamente o caso da própria Câmara Municipal e das delegações de saúde. Existem equipas permanentes nas quatro freguesias do concelho, que se encarregam de monitorizar todas as questões relacionadas com o saneamento, as águas estagnadas, a produção e eliminação de lixo urbano e as condições de criação e abate de animais em áreas rurais.
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Na educação, a taxa de abandono escolar na Ribeira Grande é muito reduzida. Conforme salienta o autarca, “ao nível do ensino pré-escolar e ensino básico, possuímos uma cobertura muito boa do concelho. As escolas são recentes e há um permanente investimento na reconstrução das mais antigas. Possuímos dois liceus devidamente equipados que satisfazem as necessidades da população, pelo que consideramos que tem havido uma evolução bastante positiva nesta área”. Para o futuro, a Câmara Municipal da Ribeira Grande está apostada em implementar o ensino superior na região, “uma vez que mais de 46% dos alunos que estão a estudar no ensino superior em São Vicente, são alunos de Santo Antão”, refere o seu presidente.
A cultura e o desporto
“Na Câmara Municipal temos dado grande importância às questões culturais, pois acreditamos que o desenvolvimento não passa apenas pelo betão. É importante investirmos nas pessoas e naquilo que é a nossa identidade enquanto povo”, afirma Orlando Delgado, e adianta que, “tem sido feito um esforço para a valorizar, apoiando, sempre que possível, alguns artistas do concelho.” Todos os anos, a Câmara Municipal da Ribeira Grande realiza o festival internacional sete luas, sete sóis que, como evento internacional que é, pretende ser uma oportunidade para os jovens mostrarem o seu valor no meio musical. Conforme refere o autarca, “com alguma frequência apoiamos o lançamento de livros, a gravação de discos e outras iniciativas culturais diretamente ligadas à região”.
Ao nível do desporto, a Câmara Municipal da Ribeira Grande concretizou há pouco tempo um sonho antigo: o da construção do estádio desportivo municipal. Tem igualmente realizado, um pouco por todo o concelho, investimentos significativos na construção de placas desportivas para as suas populações.
Presente e futuro
Orlando Delgado sente-se um homem orgulhoso com o trabalho que tem vindo a desempenhar à frente dos destinos da Ribeira Grande. “Ao longo destes dois mandatos, sempre afirmei que ficaria satisfeito se conseguisse dotar de melhores condições de vida as populações que sirvo. Consegui-o em quatro áreas fundamentais, nomeadamente, a habitação, o fornecimento de água, o saneamento e a energia. Em relação à habitação, penso que as famílias da Ribeira Grande têm hoje condições de habitação que eram inimagináveis há algum tempo. Em termos de ligações domésticas à rede pública de água, estamos atualmente com uma taxa de cobertura de 90%, o que é um feito histórico a nível nacional. No saneamento, conseguimos implementar aproximadamente 70% da rede, mas já temos planos para aumentar significativamente este número nos próximos anos. Finalmente na energia, onde conseguimos que cada família tivesse acesso à iluminação da rede eléctica”.
Para o futuro, o autarca aposta no empreendedorismo e na criação de emprego, sobretudo nas camadas mais jovens da população.
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As parcerias público-privadas, são também um dos seus desafios. Conforme diz, “apesar de termos vindo a desenvolver algum trabalho de fundo nesta área, achamos que temos de continuar a fazer mais, pois apesar de não ser um trabalho da inteira responsabilidade da Câmara Municipal – há outras entidades vocacionadas para este tipo de investimentos – queremos continuar a manter a nossa colaboração nesta área importante da sustentabilidade futura da Ribeira Grande”. No entanto, e conforme afirma, “existem muitas outras áreas que carecem de melhorias e intervenções, tais como a requalificação urbana e a questão das acessibilidades a muitas regiões do concelho, por isso, temos ainda muito trabalho pela frente, mas sempre com um único propósito: a melhoria das condições de vida e do bem-estar das gentes da Ribeira Grande e da ilha de Santo Antão”.<