30 Nov 2013
Nhô Nhô Pequinim – O “pequeno” grande maiense
Nasceu em 1927 na freguesia de Nossa Senhora da Luz, na Calheta, Ilha do Maio. Nos seus 86 anos de idade, assistiu a todas as transformações que o Maio tem registado ao longo dos últimos anos. Máximo da Silva, ou Nho Nho Pequinim como por todos é conhecido, é um homem respeitado e bastante ouvido em toda a comunidade maiense. A experiência de vida, a lucidez de pensamento e, acima de tudo, a forma como sempre lutou pelo bem-estar das suas gentes fazem dele uma figura carismática no Maio e em Cabo Verde.
[su_spacer]Pai de doze filhos, a maioria deles a viverem em Cabo Verde, avô de muitos netos dos quais já perdeu a conta, Nhô Nhô Pequinim considera-se um homem feliz com a humilde e solidária vida com que sempre presenteou quem com ele conviveu. Da sua infância recorda-se essencialmente da luta que as pessoas travavam para angariarem o sustento do dia-a-dia. A maioria, à semelhança dos dias de hoje, vivia essencialmente da agricultura, pesca e pecuária. Recorda com saudade o desapontamento do seu avó, exímio pescador e que, devido às extraordinárias aptidões na pesca, servia de conselheiro e mestre para os restantes pescadores da ilha, quando o neto abdicou das artes de pesca para se dedicar à agricultura. Apesar de na altura, conforme diz, a abundância e o tamanho dos peixes obrigar a que fossem necessários dois homens para os transportar, Nhô Nhô Pequinim preferiu angariar o sustendo da sua família pelo cultivo da terra, um trabalho mais difícil, laborioso e extenuante, numa constante luta pela sobrevivência numa “guerra corpo a corpo”, como nostalgicamente relembra.
Naqueles tempos, os que trabalhavam a terra tinham obrigação de pagar uma taxa, baseado do número de pessoas ou de animais que labutavam os campos, revertendo invariavelmente essa taxa a favor do Estado. O que se ganhava com tão esforçado sacrifício apenas dava para fazerem uma refeição diária, pois o dinheiro nunca chegava, contudo, nunca faltou o que comer na Ilha do Maio. Contrariamente ao que aconteceu em Santiago durante a grande fome de 1947, na qual milhares de cabo-verdianos foram ceifados, os maienses pouco a sentiram. Havia sempre forma de contornar a difícil situação, fosse pelo parco gado, pela pesca ou por alguma outra fonte de nutrimento com que a terra os ia presenteando.
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No meio de todas estas dificuldades, Nhô Nhô Pequinim conseguiu emprego nos barcos do armador António Bento. O sal era o principal produto transportado, que além de ser encaminhado para as outras ilhas do arquipélago, era a principal fonte de receitas externas da ilha. A costa ocidental de África era um destino comum que Nhô Nhô Pequinim palmilhava frequentemente: Senegal, Guiné Bissau, Gâmbia e até mesmo a Mauritânia eram frequentes portos de destino do tão afamado sal da Ilha do Maio. Estas viagens levavam-no a longas e sofridas ausências longe da família. Recorda uma ocasião em que teve de permanecer quatro meses no Senegal enquanto o seu navio era reparado, no entanto, sempre cumpriu escrupulosamente a sua tarefa, que a bordo dos barcos do senhor António Bento, era a de cozinheiro. Este trabalho permitiu-lhe construir, em 1955, “com a ajuda das suas próprias mãos”, a sua casa e da qual nunca mais se separou.
As suas aventuras pelos mares do mundo permitiram-lhe conhecer muitos países, acumulando um cem número de interessantes histórias que recorda com satisfação. Conta, por exemplo, a celebre viajem que o levou aos Estados Unidos da América, Moçambique e de seguida Israel, na qual ele e alguns companheiros foram presos e repatriados, não sem antes terem vivido algumas humilhações, como por exemplo, serem sujeitos a constantes e permanentes inspeções aos seus bens pessoais, “como se de lixo se tratassem”. Destaca também a sua passagem como embarcadiço num navio de fruta que navegou dentro dos Estados Unidos, Baltimore e outros pontos daquele grande país assim como as inesquecíveis viagens ao Japão e a África do Sul.
Durante todas as suas viagens a maior preocupação era fazer chegar, às vezes por dúbios meios, o dinheiro necessário ao sustento da sua família. Recorda que a única forma de enviar dinheiro era dentro de uma carta, correndo o risco da família nunca a vir a receber, tornando-se numa inquietação permanente enquanto não recebesse a tão ansiada confirmação de que o dinheiro tinha chegado ao destinatário. Conta uma pequena história de alguém que, na Ilha do Maio, durante alguns meses se ter apropriado dos parcos pecúlios monetários que, tão cuidadosamente enviou. Nessa altura, e devido aos constantes desvios de que o seu dinheiro era alvo, teve que recorrer ao apoio de amigos. No entanto, também com a sua ajuda, conseguiu desvendar o mistério do permanente desaparecimento do dinheiro, assim como os prevaricadores. Histórias comuns a muitos dos embarcadiços daqueles tempos.
Apesar das inúmeras oportunidades, Nhô Nhô Pequenim nunca se interessou em ficar num dos países que tão frequentemente percorria. A razão da sua existência encontrava-a no Maio, junto da sua família, e era para estar junto deles que Nho Nho Pequenim trabalhava. A sua experiência serviria para mais tarde abrir caminho para alguns dos seus filhos poderem emigrar de forma mais segura e informada.
Aos 86 anos de idade, Nhô Nhô Pequinim já viu muita coisa acontecer. Viu a ilha ser governada pelo regime colonial, assistiu à independência de Cabo Verde e está a presenciar o desenvolvimento do país. Recorda os primeiros anos de um país recentemente libertado de um colonialismo opressivo e a quem aos recém-governantes faltava qualidades para tamanha responsabilidade. É com mágoa que relembra o comportamento desumano desses primeiros responsáveis para com as populações, nomeadamente as milícias, que chegavam ao ponto de baterem nas pessoas, o que nunca tinha ocorrido durante o regime colonial. Lembra-se de uma situação ocorrida na ilha do Sal quando regressava do estrangeiro. No aeroporto foi obrigado a despir-se todo para ser sujeito a um vistoria, situação que, considerou bastante constrangedora e humilhante.
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No entanto, tudo isso passou. Os tempos agora são outros e os governantes também. A sua visão para Cabo Verde é mais progressista, dando primazia ao desenvolvimento e ao bem estar das suas gentes. Nhô Nhô Pequinim. apenas lamenta o pouco empenhamento dos mais jovens, que, nas suas palavras, “deveriam melhorar o seu compromisso para com o país”, pois eles são os grandes beneficiários de todos os sacrifícios por que passámos”, contudo é com enorme satisfação e alegria que vê o esforço feito pelo povo cabo-verdiano que, “todos os dias, se empenha em viabilizar o país, arranjando alternativas e soluções que garantam o bem estar de quem cá vive”.
Comentários
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Homem corajoso e de txeu fibra… igualmente a Roberto Fernandes( Beto D´Aida) homens ki fazé storia na kel temp. Viva Cadjeta viva Nós Gentis…nhós passa sempre pa calheta há muito mais historias semelhantes a esta.