Mário Semedo – Seleção Nacional de Futebol reflexo de Cabo Verde no Mundo
20 Fev 2013

Mário Semedo – Seleção Nacional de Futebol reflexo de Cabo Verde no Mundo

Mário Semedo

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A participação da Seleção cabo-verdiana de futebol na Taça das Nações Africanas 2013 que recentemente se realizou na África do Sul é um feito histórico para o desporto nacional. No dia 14 de outubro de 2012, pela primeira vez, a Seleção Nacional de Futebol qualificou-se para a fase final de um prestigiado torneio internacional. A euforia e a satisfação sentiram-se por todo o País, no entanto, para se atingir este objetivo, muito trabalho foi realizado ao longo dos últimos anos. Mário Semedo, presidente da Federação Cabo-verdiana de Futebol, traça-nos o percurso e dá-nos a conhecer as estratégias adotadas para que o futebol cabo-verdiano se possa tornar uma referência em África e no Mundo.

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No ano 2000, a atual direção da Federação Cabo-verdiana de Futebol (FCF) assumiu o Projeto Seleção como prioritário para o desígnio do desporto nacional. Conforme diz Mário Semedo, presidente da FCF, “antigamente o grande protagonismo do futebol nacional recaía inteiramente sobre os clubes; a Seleção Nacional estava sempre num plano secundário. Quando a atual direção assumiu a presidência da FCF, ficou logo estabelecido, até pelo que representa para qualquer país, que uma das prioridades na nossa atuação seria a Seleção Nacional de Futebol, pois pretendíamos que fosse a Seleção a marcar o ritmo do futebol cabo-verdiano e não os clubes.”

Numa primeira fase, a FCF apostou na participação regular em provas na região. Conseguiu mesmo, no ano 2000, ganhar a taça Amílcar Cabral, competição de seleções de futebol da África Ocidental, que conta com a participação da Gâmbia, Guiné-Bissau, Mali, Mauritânia, Senegal, Serra Leoa e Cabo Verde. “Creio que a vitória na Taça Amílcar Cabral foi a rampa de lançamento para o futuro. Conseguimos fazer ver aos jogadores cabo-verdianos que a FCF estava empenhada em mudar o rumo que até ali tinha sido dado à nossa Seleção Nacional. Toda a nossa atuação estava a ser pautada pela serenidade e pelo profissionalismo”, afirma Mário Semedo.

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3- Mario Semedo - NG

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A FCF definiu então um projeto a curto e médio prazo com etapas e objetivos claros em que apostou fortemente na qualificação do departamento técnico. Durante essa fase, conseguiu ainda cativar muitos jogadores que, anteriormente, se recusavam a jogar pela Seleção.

Fruto desse trabalho, em 2008 a Seleção Nacional de Cabo Verde conquistou a medalha de bronze nos jogos da Lusofonia que se realizaram em Macau e, no ano seguinte, em Lisboa, sagraram-se campeões conquistando a medalha de ouro nessa mesma competição.

O progresso registado pela Seleção Nacional foi, segundo Mário Semedo, planeado “mas sempre conscientes dos condicionalismos e das dificuldades que nos iam aparecendo, pois os recursos são escassos o que nos obriga a ter os pés bem assentes no chão. Apesar disso, conseguimos atingir o 51º lugar no ranking da FIFA e, um ano antes do que tínhamos estipulado, conseguimos atingir a fase final do CAN.”

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Mário Semedo

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Para poder estar presente na África do Sul, a seleção cabo-verdiana de futebol teve que eliminar na fase final de apuramento, a poderosa seleção dos Camarões, que contabiliza já 4 títulos alcançados na Taça das Nações Africanas, seis presenças no Campeonato do Mundo de Futebol e que, por uma vez, já foi campeã olímpica da modalidade. A presença na fase final do CAN, por si só, foi uma grande vitória; o facto de ter passado da fase de grupos para os quartos-de-final foi um feito notável. Tal como diz Mário Semedo, “mais do que para o futebol cabo-verdiano, esta nossa participação no CAN 2013 foi uma importante vitória para Cabo Verde enquanto país. Passámos a mensagem a todos os cidadãos que, com esforço, sacrifício, trabalho, organização e seriedade pode- -se conseguir muita coisa, mesmo não tendo os recursos que outros têm”.

Apesar do notável feito, o trabalho desenvolvido pela FCF não se esgota no CAN 2013. Há que dar continuidade ao projeto Seleção Nacional. Contudo, a tarefa não se mostra fácil, pois como diz o seu presidente, “muitos jogadores formam-se nos clubes de cá e acabam por se afirmar no estrangeiro. Do ponto de vista desportivo, é preciso substituir esse modelo por outro mais competitivo. Foi um modelo que serviu, adaptado de certa maneira à realidade do País, sobretudo à realidade económica, no entanto, se queremos trazer para Cabo Verde mais benefícios em termos desportivos, temos que pensar em algo mais competitivo”.

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Equipa de Tubarões Azul

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A adoção de um novo modelo para o futebol nacional passa por alterar o funcionamento do Campeonato Nacional de Futebol. Conforme explica Mário Semedo, “durante uma época desportiva, os jogadores têm poucos jogos e isso reflete-se na pouca competitividade dos nossos jogadores. Se juntarmos a esta falta de competitividade um campeonato onde participam todas as ilhas – o que apesar de ser democrático, é injusto, pois não permite criar a competitividade desejada – a tarefa de impulsionar a modalidade, retirando dela benefícios económicos para o País, torna-se ainda mais difícil”. Mário Semedo explica que, no modelo atual, “se uma região não trabalhar bem, não tem uma equipa no primeiro escalão, ao contrário de outras regiões que trabalham muito bem, têm muito boas equipas e apenas uma delas pode participar. A democraticidade deste modelo tem um reflexo negativo do ponto de vista desportivo. Pretendemos por isso introduzir um modelo que privilegie o mérito e isso passa por um campeonato onde participem as melhores equipas e não necessariamente equipas de todas as ilhas. Podemos criar uma divisão secundária destinada às equipas que não tiveram um bom resultado no primeiro escalão, em que ao participarem nesse campeonato secundário, possam ter oportunidade de voltar novamente ao escalão principal”, descreve.

Outra das dificuldades enfrentadas ao nível do futebol profissional é o facto de muitos jogadores cabo-verdianos, que jogam noutros países, ao fim de algum tempo se naturalizarem cidadãos desses países, inviabilizando assim a sua participação pela Seleção Nacional. Perante esta dificuldade, Mário Semedo acredita que “só através da profissionalização do futebol em Cabo Verde, é que se poderá travar essa fuga de valores do nosso País, no entanto, tendo em conta a realidade económica de Cabo Verde, será uma tarefa muito difícil”, acrescenta. Apesar de ter uma tarefa difícil, o presidente da FCF enumera algumas soluções simples apontadas para minimizar este obstáculo, nomeadamente, “através da criação de seleções novas de base que disputem competições regulares por forma a ganharem uma identidade desportiva própria, quer entre os jogadores e equipas técnicas, quer com o País. Também temos de continuar a ser fortes ao nível da Seleção A, para que os mais novos possam ver a sua participação na Seleção Nacional de Cabo Verde como um objetivo a alcançar. Finalmente, devemos trabalhar internamente para a criação de um Campeonato Nacional de Futebol mais profissional e competitivo, em que os jogadores possam ter o seu rendimento, sem terem necessidade de emigrar. Poderão emigrar jogadores de elite, mas este não será o objetivo de todos”, diz.

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Tubarões Azuis

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A formação de base e a requalificação de espaços para a prática da modalidade é outra das apostas da FCF. A este nível, a intervenção da FIFA é fundamental no crescimento da qualidade do futebol cabo-verdiano. “De todos os projetos que a FIFA implementou no País, o projeto GOAL foi talvez o que mais contribuiu para impulsionar a modalidade. Através deste projeto, estamos já em fase de acabamento do Centro de Treinos de S. Vicente; conseguimos requalificar o estádio da Várzea (projeto que rondou os 700 mil dólares), conseguimos o apoio da FIFA para o arrelvamento do estádio na Brava, no valor de 200 mil dólares, entre outros projetos importantes e significativos para a melhoria da modalidade no País. A FIFA é fundamental para o desenvolvimento do futebol em Cabo Verde e nós temos sabido aproveitar bem todos esses projetos”.

O futebol cabo-verdiano está atualmente a atravessar uma fase de grande confiança, quer dentro, quer fora dos relvados. Tal como afirma o presidente da Federação Cabo-verdiana de Futebol, “essa confiança é ganha com ações concretas. Durante todo o tempo em que esta direção esteve à frente da FCF conseguimos a confiança da FIFA, das equipas técnicas, dos jogadores e do País e isso reflete-se também na própria imagem do País ao nível internacional, pois passamos a mensagem de que Cabo Verde está a trabalhar e a fazer as apostas certas. O triunfo do futebol nacional tem um reflexo muito grande no Cabo Verde real, e isso é bom para todos nós”.

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