Maria de Fátima Lopes Brito
18 Mar 2021

Maria de Fátima Lopes Brito

Nasci a 1 de maio de 1941 na freguesia de São Crucifixo, em Santo Antão. Vim para São Tomé e Príncipe ainda com 16 anos. Fiz a viagem no barco Benguela, eu e o meu namorado. Passámos oito dias a navegar. Dentro da nossa condição de contratados, até que a viagem foi tranquila: ninguém morreu nem tomou pancada. Quando aqui cheguei fiquei feliz por ver uma ilha tão cheia de vegetação e muita água, que era algo a que não estava habituada. Havia ordem e respeito. Depois de desembarcarmos tínhamos um camião à nossa espera para nos levar até à roça que nos tinha calhado em sorte. Admirei-me por não começar logo a trabalhar. Deram-nos 9 dias de repouso, para conhecermos as instalações e nos habituarmos ao clima. Eu fui colocada na roça Diogo Vaz, mas não me dei bem. Fiquei doente. Então transferiram-me para a Rio D’Ouro, nome que tinha a roça Agostinho Neto no tempo colonial. Até hoje aqui continuo. 

Casei passado um ano e sete meses. Todos os meus catorze filhos nasceram aqui. Morreram quatro, ficaram dez. São todos são-tomenses. Presenciei a revolução dos pretos contra os brancos e dos brancos contra os pretos. Entretanto os brancos foram chamados a partir e foram quase todos embora. Nessa altura revoltámo-nos, pois quando veio a independência ficámos na miséria. Não havia nada, nem sal para enganar a fome. Depois as coisas começaram a melhorar. Aos poucos começaram a aparecer produtos alimentares e assim nos temos mantido até hoje. 

À medida que os filhos iam crescendo, iam tendo outras ambições. Tenho filhos em Cabo Verde, em Portugal, no Luxemburgo e no Gabão. Já por algumas vezes os fui visitar, mas acabo por regressar a este meu cantinho. Este quintal é o meu mundo. Os meus filhos estão todos bem, por isso, acomodo-me por cá. Apesar de tudo, gosto de estar aqui.

Roça Agostinho Neto – São Tomé


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