Mais além que o mar
01 Out 2012

Mais além que o mar

Para editar este número da Nós Genti, tive a oportunidade de percorrer o triângulo formado pelas ilhas de Santiago, Fogo e Santo Antão, onde pude comprovar a minha já forte convicção da força e querer dos cabo-verdianos. Em todas elas, pude sentir a profunda preocupação com a vida e as perspetivas sociais com que se lida o dia a dia.

Independentemente da sua condição social, estas gentes marcam uma diferença no modo de enfrentar a vida. O realismo com que encaram os problemas que os afetam, faz com que coloquem em primeiro lugar a melhoria dos recursos, em prol do bem-estar coletivo. O isolamento das ilhas, que tinha no mar um entrave ao conhecimento, já não impede que a informação e a experiência circule, de ilha em ilha, e destas para o resto do mundo.

Observei a complementaridade das valências individuais de cada uma das ilhas, que contribuem, de forma simultânea e coletiva, para o bem-estar de todos os cabo-verdianos. Senti dos foguenses uma grande autoestima e calor humano, a que não deve ser indiferente a força do seu vulcão, sempre omnipresente no espírito e no espaço. Dos tarrafalenses, experimentei os valores da igualdade, quiçá transmitidos pela Cadeia do Tarrafal e o que ela significa para a história de todos os povos. Finalmente, dos santantonenses pude apreciar a resistência e a força do seu trabalho, tão bem caracterizado na imponência da sua ilha.

São gente de crença e de grande religiosidade, onde através da fé e da confiança inabaláveis, vão construindo, dia após dia, um futuro melhor para si e seus descendentes.

Dos autarcas que entrevistei, senti a convicção de que o mais importante, não são as cores político-partidárias, mas sim o empenho e a convicção firme de servir as suas comunidades e o seu país.

Pude ainda testemunhar que é através da escrita, da música e das artes, expressas por alguns dos maiores interpretes da comunidade, que este povo traduz e magistralmente manifesta, os sentimentos que lhes percorrem o íntimo da sua alma.

Por fim a morabeza com que nos acolheram. É um denominador comum a todas as ilhas, a todo um povo, que mesmo nas dificuldades, muitas delas históricas, têm sempre uma palavra de carinho e amabilidade, que se expressa nas conversas que agora vos damos a conhecer.

Luís Neves


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