Luísa Mosso – Manter viva a tradição da olaria da Boa Vista
07 Mai 2014

Luísa Mosso – Manter viva a tradição da olaria da Boa Vista

Luísa Mosso começou a trabalhar o barro com apenas nove anos de idade. Ajudava a mãe, Dª Gracilda Ramos Mosso, conhecida em Rabil por Juvina. O processo de transformar o tosco barro em peças habilmente moldadas cativou-a ao ponto de se ter dedicado, quase em exclusivo, a esta atividade. Atualmente à frente da Escola de Olaria de Rabil, Luísa Mosso tem orgulho no trabalho que desenvolve e não se vê a fazer outra coisa que não moldar o barro em belas peças de artesanato cabo-verdiano. 

[su_spacer]Luisa Mosso - Ilha da Boa Vista

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Já trabalhou num aeroporto, mas é a moldar o barro que Luísa Mosso se sente feliz. Quando coloca as mãos no barro molhado e informe, sente-se tranquila e calma. Esquece por completo os problemas do mundo exterior à Escola de Olaria de Rabil, e dá corpo à criatividade em peças que encantam nacionais e turistas.

A Escola de Olaria de Rabil foi construída em 1960 como forma de preservar e transmitir aos mais jovens a tradição e a cultura da olaria da Boa Vista. Durante muitos anos produziu peças de artesanato e telhas, algumas das quais ainda nos dias de hoje cobrem as casas de Rabil. No entanto, com o desenvolvimento que a ilha tem registado nos últimos anos, os mais jovens perderam o interesse na atividade, preferindo trabalhar nas novas e vistosas unidades hoteleiras que crescem um pouco por toda a ilha.

Remodelada em 2008 pela Câmara Municipal da Boa Vista, esta escola de artífices perdeu um pouco da sua vocação inicial transformando-se numa oficina de excelência onde, diariamente, cinco artesãos moldam o barro com destreza e habilidade, em técnicas ancestrais e que preservam a tradição oleira de outros tempos.

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Luisa Mosso - Ilha da Boa Vista

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O barro que utilizam nas suas criações é extraído na Ribeira do Rabil, mais precisamente da localidade do Barreiro, nas proximidades da oficina. É considerado o melhor barro de Cabo Verde e isso comprova-se nas peças terminadas.

A procura de produtos de artesanato local, e a cerâmica e olaria em particular, é grande. Os turistas são quem mais procuram, mas os cabo-verdianos começam já a dar mais valor a este tipo de peças. Todas as peças são feitas manualmente, segundo técnicas e tradições antigas. Do cestos aos potes, dos cinzeiros aos vasos, todas as peças têm grande procura, no entanto, a tartaruga miniatura é a estrela de vendas. Símbolo da Boa Vista, a tartaruga é amada por todos os turistas que visitam a oficina, de italianos a ingleses, dos alemães aos portugueses.

Mesmo com crise financeira, a procura é grande, principalmente por parte dos turistas que pretendem levar para os seus países uma recordação da Boa Vista o que faz com que, apesar das grandes dificuldades, os cinco artesãos consigam retirar da olaria o seu sustento e o das suas famílias.

A divulgação do seu trabalho é feito boca-a-boca. Os turistas que compram também ajudam quando mostram nos hotéis as belíssimas peças adquiridas.

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Luisa Mosso - Ilha da Boa Vista

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Embora todos os dias vendam algumas peças, sentem dificuldade em investir no crescimento da oficina. Apontam como prioridade a aquisição de equipamentos capazes de lhes permitir vidrar as peças criadas, mas precisavam de um forno elétrico e equipamento industrial capaz de refinar o barro que, nesta zona, tem muita areia e sal; um sonho antigo que perseguem mas que, infelizmente, vai sendo adiado por falta de recursos financeiros.

Transformar a oficina de olaria numa cooperativa é um dos objetivos de Luísa Mosso, no entanto, e apesar de já o ter tentado, ainda não conseguiu implementar este modelo organizativo que, conforme salienta, apenas traria benefícios aos artesãos e à divulgação do artesanato nacional.

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Luisa Mosso - Ilha da Boa Vista

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Esta ideia de formar a cooperativa é, para Luísa Mosso, fundamental pois através dela poderia ser criada uma escola de artífices que garantissem a continuidade do trabalho até agora realizado. Caso contrário, receia que muitos dos conhecimentos e técnicas que foram sendo transmitidos geração após geração se percam para sempre, o que seria péssimo para a cultura nacional e para a preservação da genuína identidade cabo-verdiana.


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