Kitana Cabral – Futuro promissor para o basquetebol cabo-verdiano
30 Jul 2013

Kitana Cabral – Futuro promissor para o basquetebol cabo-verdiano

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Após concluir, em 1986, o curso de piloto aeronáutico em Portugal, Kitana Cabral regressou a Cabo Verde para exercer a profissão. No bairro onde vivia, e “em jeito de brincadeira”, começou a jogar basquetebol. A modalidade não lhe era estranha, pois quando ainda estudava no norte de Portugal, praticava regularmente andebol, voleibol e basquetebol. Para além de comandante nos Transportes Aéreos de Cabo Verde, Kitana Cabral é ainda o presidente da Federação Cabo-verdiana de Basquetebol.
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Foi campeão de Cabo Verde por duas vezes e campeão regional quatro. Kitana Cabral é o rosto à frente do basquetebol nacional. O regresso a Cabo Verde permitiu-lhe, a par da sua atividade profissional de comandante dos TACV, desenvolver a modalidade desportiva que mais o atrai: o basquetebol.

Como se tornou presidente da Federação Cabo-verdiana de Basquetebol (FCB)?

Na sequência de alguns problemas que aconteceram no bairro onde vivia, o atual Bairro Craveiro Lopes, houve pessoas que assumiram a direção e o desenvolvimento de algumas atividades, entre as quais a prática do basquetebol para os miúdos do bairro. Eu fui uma dessas pessoas e aos poucos fui-me envolvendo. Quando me apercebi, era o “faz tudo” – treinador, dirigente, etc.

Na altura, o Augusto Veiga, que era o presidente da FCB, resolveu candidatar-se para o seu segundo mandato. Através de um amigo comum, convidou-me para ocupar o cargo de vice-presidente da assembleia geral da federação. Passados alguns meses, e por impossibilidade do então presidente, acabei mesmo por me tornar o presidente da assembleia geral. No mandato seguinte, fui proposto para vice-presidente da FCB e atualmente ocupo o cargo de presidente.

No meu primeiro mandato conseguimos o terceiro lugar em Angola e agora estou no segundo mandato. Penso que seja o meu último mandato à frente da Federação.

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Basquetebol Cabo Verde

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Como tem sido liderar a FCB?

Em Cabo Verde ainda se confunde as instituições com as pessoas que estão na sua liderança. Eu sou piloto de aviação comercial e como tal há muitas alturas que não posso estar presente no país. Ora por vezes, só se consegue desbloquear determinadas situações com a minha presença, pois há pessoas que confundem a Federação com o Kitana, quando não devia ser assim. A Federação Cabo-verdiana de Basquetebol é uma instituição que deve funcionar independentemente das pessoas que tiver à sua frente.

Como é que estão estruturadas as equipas e os vários campeonatos de basquetebol em Cabo Verde?

Em Santiago temos duas regiões desportivas: Santiago Norte e Santiago Sul. Depois, à exceção de São Nicolau que este ano não está a participar, temos oito regiões desportivas a disputar o campeonato. No entanto, antes de poderem participar no campeonato nacional, têm que se organizar ao nível regional, com o mínimo de três equipas em cada escalão por região. As ilhas vão organizando o campeonato regional e no fim da época desportiva, tem lugar o campeonato nacional.

O facto de termos equipas provenientes de várias ilhas é um esforço acrescido, pois para fazermos o campeonato nacional, temos de reunir essas equipas na Praia, em São Vicente ou na Ilha do Sal e realizar a fase final do campeonato nacional. Isto em termos de custos é um peso muito grande. O principal patrocinador do desporto em Cabo Verde é o Estado, apesar de não cobrir todas as despesas.

A título de curiosidade, Cabo Verde é o único país de África que tem um campeonato sub-14, que é a camada de iniciação.

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Kitana Cabral

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Cabo Verde tem muitos basquetebolistas na diáspora, nomeadamente nos Estados Unidos da América e em Angola. Como é que estes atletas se integram na seleção nacional ?

A lei cabo-verdiana diz que até à segunda geração são todos cabo-verdianos, como tal, temos um excelente relacionamento com a “décima primeira ilha de Cabo Verde”, que é precisamente a nossa diáspora. Posso inclusive afirmar que as nossas tradições e costumes estão mais vivos na diáspora que aqui em Cabo Verde, o que faz com que, pela nossa abertura e convívio, tenhamos vindo a criar condições para que os cabo-verdianos vindos da diáspora se possam integrar fácil e rapidamente na equipa nacional. O facto de também trabalharmos com psicólogos tem feito com que essa integração tenha sido mais simples.

Há dois países na lusofonia muito fortes no basquetebol: Angola e Cabo Verde. Que expectativas tem relativamente a esta série lusófona do Afrobasket 2013, com Moçambique a completar o leque de países lusófonos a disputar entre si o grupo? 

O facto de estarmos entre irmãos é magnífico para o basquete africano. Há laços históricos que nos unem e que, apesar das rivalidades normais inerentes a quem disputa a mesma competição, tornam o convívio muito mais salutar minimizando a animosidade desportiva que eventualmente exista entre as várias seleções, o que fará com que solidifiquemos os laços históricos que unem os nossos povos. É a afirmação da língua portuguesa.

Os países normalmente definem-se pelos seus modelos de jogo – mais ofensivo ou mais defensivo. Qual destes é o modelo de Cabo Verde?

Diria que é um modelo “atrevido”, no bom sentido da palavra. A primeira vez que aparecemos no Afrobasket foi em Angola, nomeadamente em Cabinda. A falta de experiência fez com que esta nossa participação não tivesse corrido muito bem. Mas a nossa determinação e trabalho, têm-nos permitido evoluir e atualmente contamos com um basquetebol criativo, organizado, muito tecnicista, apesar de não tão rápido quanto Angola, que pelo que já mostrou, está noutro patamar.

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Selecção Cabo-verdiana de Basquetebol

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Nós não temos a tradição no basquetebol tal como Angola tem. A maior parte dos jogadores de Angola, salvo uma ou outra exceção, joga efetivamente em Angola. Em Cabo Verde é o contrário; a maior parte dos jogadores joga fora do país, cada qual com a sua escola e nos poucos dias que temos para estagiar com vista à preparação de determinado jogo ou competição, temos que adaptar vários estilos de jogos e várias mentalidades diferentes, por forma a que possamos produzir um basquetebol coeso e com agressividade no ataque.

No quadro atual do basquetebol africano, se tivéssemos que definir o ranking atual, onde é que colocaríamos Cabo Verde e o que é que a seleção representa para o basquetebol em África?

Diria que, de um a dez, estaremos na posição cinco, mas com pretensões para subirmos mais alto. É difícil, pois o que não conseguimos devido às leis de Cabo Verde, os outros conseguem com mais facilidade, que é precisamente a naturalização de muitos jogadores estrangeiros. Penso que se tivermos em consideração a qualidade do basquetebol de Angola, do Egito, da Tunísia, da Nigéria, do Mali ou até mesmo do Senegal, penso que nos posicionamos no meio da tabela.

Qual a sua opinião sobre a sponsorização em Cabo Verde no apoio ao desporto e principalmente nas modalidades de referência, como o futebol e o basquetebol?

Quando conseguimos o feito de, em Angola, nos qualificarmos para um torneio pré-olímpico (na altura para os Jogos Olímpicos de Atenas), muitos de nós, eu inclusive, dadas as dificuldades com que diariamente nos deparamos, ficámos incrédulos pelo feito conseguido. Apesar de sermos um país com escassos recursos naturais e financeiros, temos uma qualidade indiscutível nos nossos recursos humanos. Os nossos atletas são altamente competitivos e trabalhadores. Por isso, também é preciso que os patrocinadores acreditem no trabalho que tem vindo a ser desenvolvido.

Esse trabalho tem de ser feito com método, com princípio e com inteligência, para se poder colher os frutos desse trabalho. Um exemplo concreto passou-se ao nível do boxe, com a qualificação de um atleta para os jogos olímpicos. Por isso, aos poucos, vamos dando argumentos aos patrocinadores para confiarem na qualidade dos nossos atletas.

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Kitana Cabral

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E o país, está preparado para manter o futebol, o basquetebol ou outra qualquer modalidade no topo mundial?

Não, não está. É preciso ter essa consciência. Por esse motivo é que o basquetebol cabo-verdiano subiu ao topo e depois caiu, pois não tinha o suporte do país, quer em termos de formação de atletas, quer ao nível das infraestruturas necessárias para apoio à modalidade.

Hoje em dia, com o futebol, o basquetebol e a experiência que fomos adquirindo ao longo destes últimos anos, há mais consciência da importância do marketing e da visibilidade que tem que ser dada aos patrocinadores e estes já têm começado a colher melhores resultados. Como tal, há toda uma aprendizagem que é necessária para que se consiga minimizar as insuficiências financeiras para o desporto nacional. Havendo retorno dos investimentos feitos pelos patrocinadores, aparecerão mais verbas provenientes de mais investidores, as quais irão criar condições para termos seleções mais coesas, mais bem trabalhadas e mais competitivas.

Como tem sido feita a formação de técnicos e árbitros para o basquetebol nacional? 

O facto de sermos um país de emigração é um problema, o que implica que a formação em Cabo Verde tenha que ser contínua. Formámos três formadores de nível três e nenhum deles está neste momento em Cabo Verde… Temos um árbitro internacional – possivelmente teremos formado, dentro de pouco tempo, mais dois árbitros de nível internacional – e com todos eles, legitimamente e na busca de melhores condições de vida, corremos o risco de poderem vir a emigrar ou a procurar trabalho noutra ilha, o que quer dizer que os processos de formação em Cabo Verde têm forçosamente que ser contínuos.

Que estratégia tem tido a FCB na procura de novos valores e na divulgação da modalidade?

Aos poucos, o Estado e os parceiros sociais, têm vindo a perceber que há um setor onde abunda matéria-prima: as escolas. O Ministério da Educação e Desportos assinou recentemente com a Federação Cabo-verdiana de Basquetebol um protocolo que permite irmos às escolas trabalhar essa matéria-prima. Se tivermos algum sucesso nesse trabalho, podemos ter a certeza que o basquetebol cabo-verdiano irá disparar. Por incrível que pareça, a nossa média de altura é superior, por exemplo, a Angola. Há apenas cinco mulheres no mundo capazes de fazer um smash, e uma delas é cabo-verdiana, por isso, tenho esperança que o futuro do basquetebol nacional seja promissor e venha a trazer muitas alegrias a Cabo Verde.

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Basquetebol Cabo Verde

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Quais as perspetivas para o Afrobasket 2013?

Temos uma responsabilidade acrescida, pois com o nosso historial e com o brilharete do futebol, as pessoas estão à espera que, no mínimo, consigamos o terceiro lugar, o qual dará acesso ao Campeonato do Mundo. Apesar de ser um homem otimista, também sou realista, como tal, para mim, cada jogo será uma final.

Que mensagem deixa aos amantes do basquetebol cabo-verdiano?

Que apoiem a seleção, independentemente de serem ou não adeptos do basquetebol. Que nos unamos em torno de uma causa comum, e essa causa que seja sempre Cabo Verde, a nossa bandeira e o nosso povo.


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