Inácio dos Santos Carvalho – Capacitar jovens atletas e apostar em mais infraestruturas desportivas
30 Jul 2013

Inácio dos Santos Carvalho – Capacitar jovens atletas e apostar em mais infraestruturas desportivas

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Inácio Carvalho é possuidor de um palmarés invejável no desporto nacional. Integrou a Seleção Nacional de Cabo Verde de futebol apenas com dezasseis anos. Foi considerado o melhor jogador da modalidade da zona 2 e que inclui países como Cabo Verde, Guiné Bissau, Serra Leoa, entre outros. Foi ainda campeão nacional enquanto treinador do Boavista da Praia e, no cargo de adjunto da seleção nacional de futebol, alcançou o estatuto de campeão da zona 2 de futebol. Praticou ainda andebol e atletismo. É o diretor-geral dos desportos de Cabo Verde há doze anos.
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Natural da cidade da Praia, na Ilha de Santiago, Inácio dos Santos Carvalho cedo despertou para o desporto. Enquanto estudante do ensino secundário, era um dos mais ativos na prática de várias modalidades desportivas. Mesmo quando foi frequentar o ensino superior em Coimbra, Portugal, nunca abandonou o desporto, chegando mesmo a jogar futebol a nível profissional.

OS AVANÇOS E RECUOS DO DESPORTO ESCOLAR EM CABO VERDE

Fruto deste percurso e da grande experiência que tem à frente do desporto nacional, Inácio Carvalho tem no desporto escolar um aliado importante para a manutenção e desenvolvimento futuro das várias modalidades desportivas. Atualmente a Direção Geral dos Desportos (DGD) tem dado grande importância ao desporto escolar, mas nem sempre foi assim, tendo o desporto escolar passado por várias fases, em função do ministério que o tutela. Conforme diz Inácio Carvalho, “em Cabo Verde temos Ministério da Educação e Desporto, outras vezes temos Ministério da Juventude e Desporto. Quando o desporto está tutelado pelo Ministério da Juventude, a Direção Geral de Desportos tem desempenhado o seu papel, colaborando material e financeiramente para a dinamização do desporto nas escolas, mas não tem a tutela ou a responsabilidade de gerir esse setor. Quando o desporto escolar está tutelado pelo Ministério da Educação e Desporto, há uma coordenação nacional – a qual vem implementada no seu programa e acontece como que um “divórcio” entre a parte federativa e o desporto escolar.”

Este programa do Ministério da Educação e Desporto assenta ao nível das escolas que não têm uma cultura desportiva forte e que não se revêm na importância do desporto como meio de união e integração social. Tal como recorda o diretor-geral dos desportos, “houve tempos em que o desporto escolar teve uma implementação muito forte, com resultados muito positivos ao nível do desempenho dos alunos. Depois houve um interregno de 2 ou 3 anos durante os quais se registou um total vazio de resultados”, acrescenta. Há dois anos, o desporto escolar tinha a coordenação da Direção Geral dos Desportos, no entanto, com a tutela a passar novamente para o Ministério da Educação e Desporto, “passou a haver uma interligação um pouco mais tímida, uma vez que o desporto escolar tem de ter condições mais previsíveis e estáveis para o desenvolvimento da sua atividade”, refere o diretor.

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2- DGD - NG

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A VISÃO DA CPLP PARA O FUTURO DO DESPORTO ESCOLAR

Também ao nível dos restantes países lusófonos, está-se cada vez mais a dar relevância ao desporto escolar como fonte de recrutamento de atletas capazes de representar os respetivos países em importantes competições internacionais. Há inclusive algumas tentativas, nomeadamente por parte do Brasil e com a conivência de Portugal, de transformar os jogos da CPLP em jogos escolares da CPLP, o que, segundo Inácio Carvalho seria positivo, pois permitiria que os mais jovens tivessem atividades desportivas curriculares, apesar da resistência de alguns países membros que, por falta de estruturas consolidares de apoio ao desporto escolar, se têm mostrado mais renitentes.

Um dos países que sente essa dificuldade é precisamente Cabo Verde, onde existe uma Coordenação Nacional de Educação Física e Desporto Escolar que trabalha em concertação com os coordenadores de educação física de cada um dos estabelecimentos de ensino. Existem delegados do Ministério da Educação e Desporto em todos os concelhos do país que, em coordenação com as escolas, apresentam e implementam os diversos planos de atividade, contudo, existe ainda um grande constrangimento para a harmonização do desporto em Cabo Verde, pois segundo o diretor-geral dos desportos, “cada ilha apresenta as suas especificidades”, e dá o exemplo da Praia, onde há menos dificuldade de implementação do desporto escolar devido ao facto de ser uma cidade com tradição e vocação para o desporto, no entanto, “no interior de Santiago, o panorama já se altera radicalmente, e tal como acontece, na Brava e em São Nicolau, por exemplo, as dificuldades em implementar o desporto ao nível do ensino são gritantes”, concluindo que, “ainda não se pode falar em harmonia no desporto escolar no território nacional, apesar de haverem iniciativas bem sucedidas em algumas ilhas.”

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Inácio dos Santos Carvalho

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O PROGRAMA BOLSA JOVEM ATLETA

Apesar das dificuldades na implementação do desporto escolar, a DGD tem contribuído significativamente para a dinamização da prática desportiva junto das camadas mais jovens da população, nomeadamente ao nível dos escalões de formação. Através do programa governamental Bolsa Jovem Atleta, tem sido possível apoiar alguns jovens com apetência para o desporto, mas que, devido a carências económicas, se viam privados da sua prática. Este programa permite à DGD pagar diretamente aos estabelecimentos de ensino propinas, cadernos, livros, uniformes e outros materiais escolares que o jovem atleta necessite. Em função do rendimento escolar do aluno, o programa poderá transitar para o ano letivo seguinte. O programa Bolsa Jovem Atleta abrange atualmente 265 crianças com idades compreendidas entre os 6 e os 16 anos.

A NOVA LEI DE BASES DO DESPORTO NACIONAL

A importância do desporto no seio da sociedade é igualmente reforçada pela nova lei de bases do desporto nacional, que caso venha a ser implementada, será uma revolução em Cabo Verde. Esta nova lei abrange o desporto de alto rendimento, a alta competição e a proteção social aos atletas destes escalões. Apesar de já ter sido aprovada, a nova lei, que mereceu a contribuição de todas as Federações e de toda a sociedade civil, aguarda ainda regulamentação.”Temos atletas de alto gabarito que estudam, mas neste momento, em termos legais, e por falta de regulamentação da lei, não podem ter uma bolsa de estudo. O mesmo se passa com os atletas trabalhadores, que precisam de condições profissionais especiais para a prática do desporto de alta competição – há empresas privadas que recusam dar despensa aos atletas. Este é ainda um ponto fraco no setor e um grande constrangimento que nós temos”, lamenta Inácio dos Santos Carvalho.

Também ao nível das universidades o cenário não é animador. Tal como afirma o diretor, “a universidade tem um desporto ainda muito incipiente, apesar de a Direção Geral dos Desportos incentivar, quer na Praia, quer em S. Vicente, a prática do desporto universitário. É necessário que estes estabelecimentos de ensino assumam igualmente as suas responsabilidades”, lamenta Inácio Carvalho, adiantando que a DGD estará aberta e disponível para cooperar na organização e na implementação de atividades desportivas, não só ao nível do desporto universitário, mas também no que se refere à prática do desporto militar e dos portadores de deficiência, pois como adianta, “todos fazem parte do sistema de deporto nacional.”

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Inácio dos Santos Carvalho

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OS RECURSOS FINANCEIROS PARA O DESPORTO EM CABO VERDE

Em Cabo Verde as federações desportivas gozam de autonomia na gestão das diversas associações. Apenas prestam contas à DGD das verbas que lhes foram disponibilizadas e da forma como foram aplicadas. “Trabalhamos com as federações de acordo com o dinamismo, o trabalho e os resultados alcançados por cada uma delas. Damos um subsídio às associações regionais e os clubes são beneficiados pelas associações. A Direção Geral dos Desportos não beneficia diretamente os clubes”, explica o diretor.

As verbas disponibilizadas pela DGD às federações servem para subsidiar o funcionamento corrente, a organização de competições nacionais e internacionais que envolvam a participação de atletas nacionais, quotizações, congressos, etc. Uma exceção é feita ao Comité Paraolímpico, uma vez que não está constituído como federação, o que faz com que tenham que ser celebrados acordos pontuais na atribuição de algumas verbas necessárias à sua participação em eventos internacionais, como recentemente aconteceu na participação dos Jogos Paraolímpicos de Londres.

A DGD tem à sua disposição um orçamento aproximado de 96 milhões de escudos para a formação e competição. Deste montante, sessenta e sete por cento é para as federações. “Os recursos são parcos e devem ser geridos da melhor forma possível. O Estado de Cabo Verde tem dado a sua comparticipação. O Estado não tem recursos para atender às reivindicações de todos, como tal, tem de priorizar planos de atividade que se apresentem de acordo com os recursos postos à disposição para o setor”, lamenta Inácio Carvalho, e acrescenta que, “para o Governo, o importante é criar as condições e as infraestruturas necessárias ao desenvolvimento do desporto nacional. Os resultados desportivos que o país tem ultimamente alcançado são fruto do investimento que foi feito no setor”, e dá o exemplo dos campos relvados em todos os concelhos do país, havendo mesmo casos de concelhos com mais de três campos relvados.

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Direção Geral dos Desportos

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Em 2013, o Governo cabo-verdinao disponibilizou 60 milhões de escudos para as infraestruturas desportivas, com prioridade para construção de infraestruturas especializadas de salão e atletismo. Com a ajuda da China, em outubro será também inaugurado o Estádio Nacional, que será a maior infraestrutura desportiva do país e que terá todas as condições de um estádio moderno para a prática de desporto de alta competição – relva certificada pela FIFA e 8 corredores, também certificados, para a prática de atletismo ao mais alto nível.

O ESTADO DA MEDICINA DESPORTIVA

A Direção Geral do Desporto possui, na Praia e em São Vicente, de um Centro para a Medicina Desportiva que, em parceria com o Hospital Batista de Sousa, disponibiliza um corpo médico e clínico apto a trabalhar na prevenção e recuperação de atletas, no entanto, os cuidados de saúde e de manutenção da mesma é da total responsabilidade dos clubes, e cujos corpos clínicos, no início dos diversos campeonatos nacionais, são os responsáveis pela inspeção física dos atletas. Este Cento tem sido partilhado entre clubes, associações e federações nacionais.

Recentemente, criou-se também a Organização Nacional Antidopagem, filiada internacionalmente e membro da Agência Mundial de Dopagem que, a nível nacional, tem vindo a desenvolver um papel de sensibilização para a problemática do doping, apesar de em Cabo Verde este ainda não ser um problema alarmante.

O DESPORTO COMO FORMA DE PROMOÇÃO DO PAÍS

Hoje, em Cabo Verde, o desporto tem merecido mais atenção por parte dos diferentes intervenientes. Também o poder político tem disponibilizado mais atenção e recursos ao desporto. Apesar destes sinais positivos, “é ainda preciso uma solução clara no que diz respeito à proteção dos atletas e assumir a profissionalização do desporto. Estamos a trabalhar para a construção de mais infraestruturas desportivas e tem havido um investimento forte na formação de agentes desportivos de diferentes níveis. Como tal, há uma boa perspetiva para o futuro do desporto em Cabo Verde”, diz Inácio dos Santos Carvalho.

E se é certo que Cabo Verde nunca disponibilizou tantos recursos para o desporto nacional como até hoje, também é certo que tem havido um engajamento de todos os atletas, desportistas, clubes, associações, federações e da sociedade civil, em prol do desenvolvimento e da projeção internacional de Cabo verde através da prática desportiva. Há, por isso, um ambiente propício e favorável que tem de ser aproveitado por todos, cumprindo cada um dos seus intervenientes o seu papel no desenvolvimento do país e do desporto em particular.


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