Henrique Pires – Festa das Bandeiras Tradição e Devoção
01 Out 2012

Henrique Pires – Festa das Bandeiras Tradição e Devoção

A Casa das Bandeiras foi fundada em 2002. Nestes dez anos de atividade, os seus membros têm-se empenhado por manter viva a Festa da Bandeira, esse evento cultural ímpar e tradicional da ilha do Fogo.  A recuperação do edifício que aloja a associação, foi uma das várias obras realizadas em prol dos costumes e tradições da ilha.  Manter viva a tradição e apostar nas obras de solidariedade social para benefício dos mais desfavorecidos, são os objetivos futuros da AMIBANDEIRA.

Conforme relata Henrique Pires, fundador da Casa das Bandeiras e membro da direção a associação AMIBANDEIRA, “a festa das bandeiras de São Filipe, não era a maior festa da bandeira da ilha. Contudo, com o passar dos anos, foi ganhando prestigio, até que ofuscou por completo a festa de São João, que era uma festividade com alguma importância no panorama das festas religiosas da ilha.”

Durante muito tempo, celebrou-se São Filipe com a “bandeira enterrada, isto é, com a bandeira depositada na igreja. Mas, em 1917, apareceu um grupo de pessoas que lutou contra o colonialismo no Fogo, e que resolveram levantar da igreja a bandeira. Como o primeiro de maio passou a celebrar o dia do trabalhador, esse grupo resolveu levantar a Bandeira, precisamente nessa data simbólica”, conta Henrique Pires.

1- Henrique Pires - Revista Nos Genti -O grupo que se intitulava Sete Estrelos, era encabeçado por Aníbal Henriques. Este homem, com uma imensa paixão pela tradição e cultura da ilha do Fogo, deixou um legado documental muito importante para a reconstrução histórica dos costumes e tradições da ilha.

Até 1974, este grupo de amigos do Fogo, nunca deixou de cumprir a tradição, e a bandeira nunca foi enterrada. Conforme descreve Henrique Pires, a Festa da Bandeira, era “celebrada essencialmente pelos sobrados e seus convidados: as famílias mais importantes da ilha. Os tamboreiros e o povo, que na altura eram chamados de pessoas do quintal, não tinham autorização de entrar na casa dos senhores dos sobrados, festejando-a apenas no quintal das casas dos mais abastados”.

Em 1974, um natural do fogo, que se encontrava emigrado nos Estados Unidos onde exercia advocacia e que tinha uma posição resistente quanto à independência de Cabo Verde, tomou a bandeira. Quando se apercebeu que a independência nacional iria ser um facto consumado, pediu a um primo residente no Fogo, para entregar a bandeira na igreja. Este primo, de nome Francisco Barbosa, mais conhecido por Chico Nha Nha, que tinha sido cavaleiro durante muitos anos, falou com os amigos, muitos deles que já se tinham instalado e feito vida na cidade da Praia, para não se levar a bandeira à igreja.

Tal como Henrique Pires recorda, “conseguiram arranjar 150 contos, e fizeram a festa. A partir dessa altura, entre grupos de amigos, empresas públicas e privadas e também alguns particulares, a bandeira nunca mais regressou à igreja e todos os anos a festa de São Filipe anima o Fogo, com a presença de milhares de pessoas provenientes de outras ilhas e da diáspora.”

Para as gentes de São Filipe, a Festa da Bandeira é um acontecimento grandioso. No entanto, tal como refere Henrique Pires, “é um evento que necessita de muitos apoios para ser realizado. Felizmente, a Câmara Municipal tem sido um importante aliado na preservação da tradição da Festa da Bandeira, pois suporta muitos dos encargos a ela associados.”

Desde que tenha capacidade económica para organizar a festa, qualquer pessoa pode tomar a bandeira. Há famílias que assumem esta responsabilidade, há pessoas singulares que tomam a bandeira e há inclusive associações que se comprometem em organizar as festividades. “Este ano, a título de exemplo, a festa foi organizada pela associação de médicos do Fogo, que juntou os médicos residentes na ilha, a outros que se encontram radicados noutras ilhas ou mesmo no estrangeiro”, relembra Henrique Pires.

13- Festa da Bandeira - Revista Nos Genti -

Para além da procissão em honra de São Filipe, da música e dança, a Festa da Bandeira tem ainda dois momentos altos e muito significativos na cultura da ilha: o cotchi midjo e a corrida de cavalos. Conforme explica Henrique Pires, “o cotchi midjo, “é o ato mais importante da festa. É com este milho batido ininterruptamente durante dois dias, que se prepara o xerém de milho, que é a base para o banquete da festa. A corrida de cavalos, ou a corrida da grinalda é outra tradição antiga dos festejos. Contudo, segundo este membro da organização, “a corrida de cavalos está a passar por uma fase um tanto descuidada quando comparada às de outrora, em que os cavaleiros se vestiam a rigor. Antigamente, os cavaleiros que participavam na Festa da Bandeira de São Filipe, eram essencialmente pessoas de posses das famílias importantes da ilha. Havia ainda a corrida de prémio, com os cavalos todos a competirem ao mesmo tempo. Será um objetivo recuperar esta tradição nas edições futuras”, afirma.

15- Festa da Bandeira - Revista Nos Genti -

A tomada da bandeira traz grande prestígio a quem se responsabiliza pela organização da festa. Uns fazem-no por devoção religiosa, outros simplesmente por quererem participar, de forma direta, nas tradições da sua terra natal. Até 2015, já estão encontrados os futuros organizadores deste acontecimento único a nível nacional e que consegue agregar, todos os anos, mais de três mil pessoas na cidade de São Filipe.

Por forma a alavancar ainda mais este grandioso acontecimento cultural de todos os foguenses, a AMIBANDEIRA prepara-se para alterar os seus estatutos sociais, transformando-se em Fundação de Utilidade Pública. Tal como refere Henrique Pires, “com a passagem da AMIBANDEIRA a Fundação de Interesse Público poderemos intervir em projetos mais abrangentes e que, certamente, contribuirão para o desenvolvimento e bem-estar das nossas gentes.” A AMIBANDEIRA, em associação com um grupo de médicos radicados nos Estados Unidos, fundaram o movimento Mais Saúde Para o Fogo e que, frequentemente, coopera com as populações mais pobres da ilha, facultando consultas gratuitas e promovendo o bem-estar das suas populações. A transformação da associação em Fundação, permitirá assim “alargar o leque da nossa intervenção social. Há já a ideia de estendermos estas iniciativas a mais áreas, tais como o ensino”, conclui.

Para o futuro, Henrique Pires gostaria que todos os foguenses continuassem a apoiar a Casa das Bandeiras, enaltecendo cada vez mais a tradição popular da ilha, contribuindo assim para o desenvolvimento social e económico do Fogo, pois conforme diz “as suas gentes merecem”.


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Comentários

  1. Amelia do Sacramento Monteiro Diz: Janeiro 26, 2013 at 1:04 pm

    apareceu um grupo de pessoas que lutou contra o colonialismo no Fogo, e que resolveram levantar da igreja a bandeira. Como o primeiro de maio .

    Assim está escrito, mas deixemos o Colonialismo e vamos á razão verdadeira da bandeira estar enterrada.
    Existia uma lenda que dizia, quem tomar a Bandeira de s. Filipe morre. Então o bravo Anibal Henrique e mais seis amigos resolveram enfrentar a lenda, dizendo se morrer morremos todos e tomaram a bandeira que nunca mais foi enterrada.

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