Gertrudes Fortes

Gertrudes Fortes

O meu nome é Gertrudes Fortes, mas aqui todos me conhecem por TUDA. Nasci na cidade da Praia, na rua da República. O meu primeiro contrato foi para a roça de Porto Alegre, em 1955. Ali fiz os meus 18 anos de idade. Depois voltei a Cabo Verde e, passados sete anos, fiz novo contrato. Na altura, em Cabo Verde, os tempos eram difíceis e não havia trabalho para todos, daí eu ter que voltar. Apesar de não gostar de São Tomé e Príncipe, não me restava outra alternativa. Acabei por vir novamente para cá, para a roça Diogo Vaz, no ano de 1965.

Lembro-me que o navio que me trouxe para o primeiro contrato foi o Ambrizete. Depois regressei a Cabo Verde no Rovuma. Levei comigo o meu filho que, entretanto, tinha nascido em Porto Alegre. Da segunda vez já vim no Kwanza. Até tive direito a camarote. Um luxo. Como tinha tido mais dois filhos em Cabo Verde, deixei ficar lá o mais velho, o que tinha cá nascido, e trouxe os outros dois.

Desde que cá cheguei, dessa segunda vez, que estou aqui, na roça Diogo Vaz. Nunca mais voltei a Cabo Verde. Tenho muitas saudades da minha terra. 

Durante os tempos dos contratos trabalhei como um jumento. Fiz todos os trabalhos possíveis de serem feitos na roça: abri buracos para plantar cacau, quebrei coco, capinei, espalhei estrume… Fiz de tudo exceto trepar nas arvores para apanhar cocos.

Aqui tive oito filhos. Morreram quatro e ficaram outros quatro, mas não querem saber de mim. Tive que usar o pouco dinheiro que consegui juntar nos anos do contrato para ajudar dois deles a irem para Portugal. Tenho nove netos e doze bisnetos.

Gostava de voltar a Cabo Verde, mas o que é que iria lá fazer? A minha mãe morreu quando eu tinha oito anos. Quem me criou foi uma tia que também já morreu há muito tempo, não tenho lá mais família. Não gosto de viver aqui, mas é aqui que vou ter de morrer.

Roça Diogo Vaz – São Tomé

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