30 Set 2012
Fernando dos Reis Tavares – Combater o regime colonial
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Fernando dos Reis Tavares, conhecido por Toco, nasceu em 1940, em plena Segunda Guerra Mundial. Filho de Ernesto dos Reis Pereira e Filipa Mendes Tavares, Toco acredita ter crescido como qualquer outra criança, só que numa época mais difícil. As recordações da sua infância, viriam mudar-lhe todo o pensamento sobre o então regime colonial português. Estava-se em plena época de fome em 1947. A injustiça e as desigualdades que via todos os dias, iriam justificar em pleno, a sua intervenção ativa na luta de libertação nacional.
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“Só quando tinha 17 anos é que veio para aqui, para Santa Catarina, um professor vindo de Portugal”, conta. “Arranjou uma escola com outro professor, Júlio Teixeira, de S. Vicente, e deram aulas e explicações aos alunos para fazerem os exames na Praia. Foi assim que consegui fazer o 2.º ano do liceu na Praia. Muitos que tinham vontade de estudar, mas não podiam ir a S. Vicente, iam para essa escola. Comecei a conviver com familiares, amigos e colegas que estavam ligados à luta da libertação nacional. Apercebi-me que havia uma realidade diferente e Amílcar Cabral tinha um projeto para Cabo Verde e para a Guiné que eliminava a fome. Eu e a minha família sofremos muito na grande fome de 1947. Fiquei deslumbrado com aquelas ideias e decidi aderir a esse grupo, pois não queria que os meus filhos passassem as dificuldades que eu fui obrigado a passar”, relembra Tavares dos Reis.
No entanto, o regime da altura apercebeu-se das movimentações e mandou polícia especializada pôr cobro à situação. Instalaram-se na Praia e começaram “a montar a rede, aparecendo depois pessoas da ação católica, que eram o braço armado do colonialismo”. Fernando Tavares dos Reis, conta que, “em 1961 começou a guerra. O colonialismo decidiu aumentar o exército recrutando pessoas com alguma formação e eu, com mais alguns colegas, fomos para a Escola de Sargentos, em Portugal. Quando terminei o curso, fui destacado para Braga, depois para Angola, onde estive cerca de dois anos, e regressando novamente a Portugal. De seguida, vim para Cabo Verde. Fiquei aqui um ano e depois resolvi ir para França, mais concretamente para Paris. Foi aí que tive o primeiro contacto com a direção do partido e com os seus elementos, os quais resolveram reenviar-me novamente para Cabo Verde, em 1968, para dar apoio na luta de libertação nacional”, recorda Toco.
Tavares dos Reis foi um dos membros ativos ao serviço do PAIGC que, na ilha de Santiago, prepararam a logística para um eventual desembarque de militares afetos ao partido, caso fosse necessário iniciar a luta armada em Cabo Verde.
Toco refere que, em Lisboa, havia “uma rede de estudantes cabo-verdianos que procuravam transmitir para a direção do partido instalada em Conacri, informações – por carta e por boca – através da França e da Holanda. Tínhamos na Holanda um grupo muito forte. Em 1968, cheguei de Paris, e após ter trabalhado cerca de três meses, fui preso. A PIDE tinha cópias das minhas cartas que saíam de Paris. Quando me mostraram as fotocópias das cartas, fiquei espantado e perguntei-me como é que elas lhes tinham ido parar às mãos deles. Assim que pude, enviei um comunicado para a direção do partido, de que havia pessoas na secretaria que fotocopiavam as cartas e entregavam à PIDE”. Apesar de não saber de onde partira a fuga de informações, se da polícia francesa ou de outro qualquer grupo que colaborava com a PIDE, o certo é que Tavares dos Reis foi preso pela polícia política do regime colonial.
Para Tavares, a vida na cadeia reforçou a convicção de que era preciso mudar e lutar. “Percebi que era necessário mobilizar imediatamente as pessoas mais próximas, no meu caso os carcereiros. Depois de falar com eles, conseguimos passar mensagens para fora e receber informações do exterior. Apesar de ter estado sempre isolado durante um ano, consegui acompanhar as grandes decisões do partido. O partido estava sempre em contacto connosco, quer a partir de Cabo Verde, quer de Lisboa, através dos militantes que trabalhavam na clandestinidade. Nós mandávamos as nossas mensagens para a direção do partido e depois o partido mandava as ordens e diretrizes”, lembra.
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Estava em Santa Catarina, em Santiago, quando soube que Amílcar Cabral tinha sido assassinado. “Tinha acabado de sair da prisão. Apesar da grande tristeza e incerteza quanto ao futuro, havia uma inabalável confiança na direção do partido. Essa confiança foi bem patente após a morte do Amílcar, quando o partido se dinamizou, fruto dos muitos apoios nacionais e internacionais. Nas Nações Unidas, o PAIGC atingiu um novo estatuto, fruto do empenho e direção de Aristides Pereira. Houve como que um novo fôlego no PAIGC, que o fez crescer muito”, diz.
A Revolução do Cravos em Portugal, originou a queda do regime colonial e a inevitável independência de Cabo Verde, a 5 de julho de 1975. “O 5 de julho foi um movimento extraordinário”, declara Fernando dos Reis Tavares. “Toda a gente nos saudava. Foi uma adesão total à causa. Percebemos que o PAIGC tinha muitos adeptos; tinha muita gente a lutar connosco. Nunca pensamos em parar a luta, mas vimos, naquele 5 de julho, que não era necessário arriscar-nos tanto, pois o povo tinha o PAIGC como a salvação do país. O dia da independência nacional, foi um grande dia para a história do nosso povo. Foi a possibilidade de escaparmos do jugo colonial fascista e provar ao mundo que o tratado de Tordesilhas tinha sido a pior coisa que se poderia ter inventado”, ironiza.
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Em parte, este é o Cabo Verde com que sonhou, “apesar da muita turbulência que sempre aparece pelo meio. Nós ainda não acreditamos que temos capacidade de construir o Estado”, e continua afirmando que, “a abertura política foi boa, mas não deveria ter sido tão cedo. Era melhor o povo amadurecer primeiro. Algumas escolhas políticas que, inconscientemente o povo tomou, arrasaram Cabo Verde. Felizmente, agora o nosso povo está mais maduro e está a tomar outro tipo de decisões, ajudando este governo a desenvolver o país.”
Sobre o futuro do país que ajudou a criar, Toco é perentório ao afirmar que, “apenas queria que o povo cabo-verdiano se consciencializasse e assumisse que é dono do país e dono dos seus destinos”.
Comentários
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TOCO TAVARES, um líder na luta pela libertação de Cabo Verde, confronta um padre. 40 anos depois …é a hora de perdoar?
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A HORA DE PERDOAR?
Em 01 maio de 1974, uma semana após a ditadura de Portugal foi derrubado, TOCO TAVARES, um líder na luta pela libertação de Cabo Verde, confronta um padre. O dia começou com a libertação dos presos políticos do campo de concentração de Tarrafal e culmina com o confronto ea revelação de um agente da polícia secreta. 40 anos depois …é a hora de perdoar?
English:
“A HORA DE PERDOAR?” eng trans. A TIME TO FORGIVE?
On May 1, 1974 one week after Portugal’s dictatorship is overthrown, TOCO TAVARES, a leader in the fight for the liberation of Cape Verde, confronts a Priest. The day began with the successfully freeing of political prisoners from Tarrafal concentration camp and culminates with a confrontation and revelation of an agent of the secret police. 37 years later…is it the time to forgive?
https://www.facebook.com/AHoraDePerdoar