31 Mai 2013
Fabrizio Fabbri – Tornar Cabo Verde num destino competitivo e sustentável
[su_spacer]Natural de Florença, Itália, Fabrizio Fabbri visitou pela primeira vez o Sal há precisamente 13 anos. Foi amor à primeira vista. Apaixonou-se pelo clima, pelas pessoas e pela cultura cabo-verdiana. Começou então a visitar de forma regular a ilha, até que decidiu comprar uma casa em Santa Maria e estabelecer-se permanentemente em Cabo Verde.
[su_spacer]Fabrizio Fabbri fala da Ilha do Sal com um brilho no olhar. A sua paixão pelo mergulho subaquático, levou-o em inícios de 2000 a visitar “um destino novo e diferente”, como gosta de recordar. Foi amor à primeira vista. Um mundo novo por explorar. Apesar de inicialmente ter sentido algumas dificuldades de integração, nomeadamente devido à língua e às diferenças culturais, rapidamente se integrou, pois tal como afirma, “a comunidade cabo-verdiana local, sempre me ajudou em qualquer dificuldade que sentisse, pois o povo cabo-verdiano é aberto a outras culturas e bastante generoso. Independentemente do status quo de quem chega, tentam sempre ajudar e facilitar os processos de assimilação, como tal, integrei-me bastante bem e sempre me senti bem-vindo”, e acrescenta que, “apesar de não possuir o mesmo nível de vida que existe, por exemplo, na Europa, a forma de estar dos cabo-verdianos perante as adversidades tornam tudo mais simples, o que permite que a qualidade de vida que aqui existe seja, por vezes, superior àquela que existe em países cujo grau de desenvolvimento é bastante superior ao de Cabo Verde.”
Essa forma particular que os cabo-verdianos têm de encarar a vida, cooperando e acarinhando quem chega, foi mesmo uma das razões que motivaram Fabrizio Fabbri a ficar. Tal como recorda, “as possibilidades na altura não eram muitas, principalmente para pequenos investidores, como tal, comecei por trabalhar no setor turístico, oferecendo os meus serviços de mergulho aos hotéis. Posteriormente, a pedido de um investidor na área da construção civil, comecei a vender os imóveis que, na altura (2002 e 2003), começavam a ser construídos.”
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Em meados da década de dois mil, os turistas que frequentavam a ilha eram sobretudo italianos. Depois, através de um trabalho da BBC que deu a conhecer, em Inglaterra, o Sal como destino turístico, a presença de ingleses na ilha aumentou exponencialmente, muitos dos quais acabaram por investir em imóveis turísticos. Esta conjugação de fatores, conciliado com o crescimento do imobiliário que na altura se registava, permitiu que nos primeiros anos de atividade, Fabrizio Fabbri vendesse mais de 400 imóveis.
Terminada a colaboração com essa empresa construtora, como era conhecedor de muitas das pessoas que tinham adquirido os imóveis, lançou-se no desafio de abrir um negócio próprio na área da gestão de condomínios – uma atividade nova resultante do elevado número de habitações construídas entre 2004 e 2008. A empresa de que Fabrizio Fabbri é proprietário está vocacionada para prestar todo o tipo de serviços de manutenção aos imóveis, desde a limpeza, a pequenas reparações de conservação. Através dos seus serviços, sempre que os seus proprietários decidem passar uma temporada de férias no Sal, encontram os seus investimentos em perfeito estado de conservação, prontos para serem utilizados. Paralelamente, a empresa promove e administra o arrendamento turístico privado de imóveis cujos donos pretendam rentabilizar o seu investimento quando não os utilizam.
No entanto, nem tudo são facilidades. Apesar do grande desenvolvimento registado na última década, o Sal ainda possui bastantes constrangimentos que dificultam o seu pleno desenvolvimento. Conforme diz o empresário, “se compararmos os recursos que existem atualmente no Sal com os que encontrei quando aqui vim pela primeira vez, a evolução é notória. No entanto, para quem vem da Europa, ainda parece muito difícil ultrapassar determinadas questões logísticas. Contudo, as melhorias são substanciais e cada vez mais essa diferença nos padrões é menor”, refere.
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O incumprimento dos prazos de execução das obras, é uma das dificuldades identificada pelo empresário. “Como tudo aqui é importado, levantam-se por vezes dificuldades no desenvolvimento e na implementação de determinados projetos”, justifica. O mesmo se passa ao nível do abastecimento de água e energia. Dado que a água é dessalinizada e a energia é produzida com o recurso a geradores, há permanentemente necessidade de efetuar a manutenção dos equipamentos produtivos, o que por vezes faz com que hajam falhas no fornecimento desses serviços, no entanto, tal como refere Fabrizio Fabbri, “estes são problemas que têm vindo a desaparecer à medida que são feitos investimentos em energias alternativas.”
Há, contudo, muito ainda a ser feito no domínio das energias alternativas na Ilha do Sal. Quase a totalidade dos sistemas de energias renováveis existentes atualmente na ilha são propriedade de investidores privados que revendem posteriormente a energia produzida à Electa que, por sua vez, a injeta no mercado. Visto que a Ilha do Sal tem vento e sol o ano inteiro, uma forte aposta neste tipo de soluções energéticas seria certamente proveitoso para o desenvolvimento económico local. É também uma das áreas mais rentáveis com mais fácil retorno para novos investidores.
Estas condicionantes fazem com que Cabo Verde “ainda não seja um destino competitivo comparativamente a outros existentes na região”, refere o gestor, que acrescenta que “é necessário melhorar alguns pormenores, tais como a limpeza dos espaços públicos e sensibilizar as pessoas para a envolvência da atividade turística. Há depois que terminar todas estas construções (muitas das quais se encontram paradas devido aos constrangimentos económicos atuais) e finalmente, afinar e tornar competitivo o regime fiscal, face a outros destinos próximos.”
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Cabo Verde tem todo o potencial para se tornar uma referência como destino turístico privilegiado na região: é um país politicamente estável, religiosamente tolerante, com um clima excelente – em algumas zonas até com características medicinais – que possui praias fabulosas e cujos habitantes são hospitaleiros e amigos de receber. No entanto, é considerado por muitos que nos visitam como um destino caro. Conforme diz Fabrizio Fabbri, “desde os custos dos vistos de entrada, passando pela nova taxa diária de 2 euros por turista, sem esquecer o pormenor de que todos os produtos consumidos têm de ser importados, faz com que o turismo aqui praticado não seja dos mais baratos quando comparado com o mesmo tipo de oferta em outros locais do globo. Também o facto de não haverem muitos incentivos ao investimento faz com que não haja muita concorrência entre os prestadores de serviços o que, obviamente, faz com que os preços praticados sejam elevados. Quem vem, gosta. Muitos até voltam novamente, mas todos são unânimes ao afirmar que é um destino muito caro para o nível de serviços que oferece.”
É por isso fundamental infraestruturar, limpar, criar valor acrescentado, por forma a dar um aspeto mais opulento justificando assim os preços praticados. Tal como diz Fabrizio Fabbri, “se formos a certos lugares como, por exemplo, às Caraíbas, que oferecem tudo o que é possível de imaginar, os preços são iguais ou menores. É pois fundamental criar esse valor acrescentado para então promover e vender pelo preço justo”, e acrescenta que, “também ao nível dos transportes existem problemas, pois havendo quase que um monopólio de companhias aéreas a operarem para cá, faz com que os voos low cost tenham de pagar taxas muito elevadas de parqueamento, o que acaba por afastar muitos operadores turísticos. É pois fundamental o país abrir-se ainda mais, para desta forma poder colher a vantagem de uma economia de escala global deixando de proteger determinados nichos que acabam por significar pouco no mercado mundial de turismo.”
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Para o futuro do turismo em Cabo Verde e, em particular, para o turismo na Ilha do Sal, Fabrizio Fabbri perspetiva a continuação do crescimento da atividade, mas com uma maior diversificação nos modelos de operação das novas unidades hoteleiras, por forma a chegar ao maior número de potenciais clientes. “Terá que se complementar a oferta com mais serviços de apoio tais como supermercados e centros comerciais capazes de atrair os turistas e fazê-los sair dos hotéis. Ao nível de oferta para o segmento alto, penso que terá de haver mais duas ou três unidades hoteleiras capazes de cativar este segmento de clientes, pois atualmente apenas existe uma já sem capacidade para absorver mais procura. Finalmente, terá que haver mais oferta de transportes para fora do Sal. Este setor dos transportes interilhas é uma área de atividade inexplorada e com um potencial de crescimento enorme em Cabo Verde que, através de acordos com os operadores turísticos a atuarem em Cabo Verde, alguns dos destinos fora do Sal pudessem já estar incluídos no pacote base adquirido pelos turistas no seu país de origem. Era uma mais-valia económica para a criação de riqueza no país.”
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