Estimular o empreendedorismo dos artesãos nacionais

Estimular o empreendedorismo dos artesãos nacionais

Centro Nacional de Artesanato e Design

Manuel Fortes, licenciado em Artes Visuais e professor de Educação Artística, é um homem otimista em relação ao futuro do recém-inaugurado Centro Nacional de Artesanato e Design. Com sede na cidade do Mindelo, na ilha de São Vicente, o Centro tem por missão fomentar o artesanato cabo-verdiano e servir de ligação entre os artesãos, a sociedade e a economia nacional.

Manuel Fortes, natural de São Vicente e atual responsável pelo Centro Nacional de Artesanato e Design, cedo iniciou uma carreira académica totalmente dedicada ao artesanato tradicional. A sua formação iniciou-se precisamente no Centro Nacional de Artesanato, tendo como tutor, o mestre João Fortes e alguns dos seus membros fundadores, nomeadamente Bela Duarte, Luísa Queirós e Manuel Figueira. Apesar de continuar a exercer de forma esporádica a atividade de artesão, dedica-se quase que em exclusivo à formação profissional de novos artesãos, pois como afirma, “o conhecimento tem que continuar a ser transmitido às gerações mais novas, por forma a não deixar morrer esse precioso bem nacional, que é o nosso artesanato”.

CNAD _2_Nos GentiConforme refere, “com a atual visão do governo relativamente à cultura, e em particular ao artesanato, conseguiu-se impulsionar a classe artesã para um novo patamar de empenhamento no desenvolvimento da atividade”. Cabo Verde passou por um período em que o artesanato se encontrava em estado moribundo, com os artesãos desmotivados e sem espaços para promoverem os seus produtos, o que levou, inevitavelmente, nos últimos anos, a uma reduzida produção de artesanato tradicional. Com o renascimento do Centro Nacional de Artesanato e Design, pretende-se “fortalecer a ligação entre os artesãos e o ministério da cultura, por forma a impulsionar a atividade”, afirma Manuel Fortes.

A criação da Associação de Artesãos de São Vicente, já em fase de instalação, é outra iniciativa integrada no programa do governo em prol da atividade, que visa a coesão dos artesãos em torno dos interesses da classe. Conforme comenta Manuel Fortes, “tem havido, por parte dos artesãos, uma grande procura de informação, quer ao nível de iniciativas que o ministério está a preparar, quer mesmo na procura de programas de formação”, e acrescenta que, “atualmente vive-se um despertar do artesanato tradicional cabo-verdiano, em que os artesãos se sentem motivados a contribuir com o seu saber, com as suas ideias e acima de tudo, com os seus produtos”.

O Centro Nacional de Artesanato e Design, pretende fomentar um espírito mais empreendedor nos artesãos, pois como refere o responsável, “o empreendedorismo é uma mais-valia para o exercício e crescimento da atividade, por forma aos artesãos não ficarem tão dependentes de patrocínios ou financiamentos do Estado, pois está provado que os artesãos conseguem viver da sua arte, contudo, por vezes, falta-lhes esse espírito empreendedor, capaz de os autonomizar”.

CNAD _5_Nos GentiOutro dos propósitos do Centro Nacional de Artesanato e Design é tornar o artesanato cabo-verdiano mais funcional. Conforme explica Manuel Fortes, “houve uma época em que o artesanato nacional se tornou mais decorativo, o que encareceu substancialmente as peças produzidas, tornando a sua venda mais difícil. Com a recuperação do artesanato funcional, pretendemos que os artesãos produzam mais, a preços mais baixos, possibilitando assim um maior retorno financeiro pelo seu trabalho”, afirma.

Também a melhoria da qualidade dos produtos manufaturados é um dos objetivos do Centro. Para tal, conta com um gabinete de design e qualidade, apto a contribuir na embalagem e apresentação das várias obras comercializadas. Com esta medida, pretende-se combater a invasão de artesanato proveniente de outras regiões de África, muitas vezes sem qualidade, e que por escassez de produção nacional, são vendidas como artesanato cabo-verdiano.

O Centro Nacional de Artesanato e Design, pretende ser igualmente um local agregador da cultura nacional, onde os cabo-verdianos possam testemunhar a sua identidade cultural. Pretende ser um polo dinâmico, com mostras, exposições, simpósios, conferências, ações de formação capazes de promover o encontro entre artesãos de diversas especialidades e o público. Pretende ser um local de discussão e de encontro de ideias e acima de tudo, que possibilite e estimule a atividade económica do artesanato nacional.

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São Vicente é a ilha com maior taxa de desemprego em Cabo Verde, e o artesanato pode contribuir de forma efetiva para a diminuição desse flagelo nacional. Conforme explica Manuel Fortes, “existem algumas experiências interessantes, que mostram que os jovens, se forem bem conduzidos, aderem facilmente ao trabalho artesão”, e dá o exem

plo de algumas ações de formação que foram realizadas em bairros periféricos problemáticos em algumas ilhas, “em que ao fim de uma semana de trabalho, os jovens mostravam-se em condições de darem continuidade à aprendizagem com a produção dos seus próprios produtos”. Um dos exemplos de produtos saídos dessas ações de formação aos mais jovens, são os carrinhos de lata, os quais são vendidos aos turistas por 10 Euros. Conforme declara Manuel Fortes, “tal contribui de forma significativa para o rendimento dos jovens, o que se revela um fator decisivo na diminuição da delinquência juvenil, alguma dela, precisamente por falta de ocupação profissional”, e conclui que “se for bem orientado, o artesanato pode ser um contributo para a diminuição da taxa de desemprego e tornar-se num veículo pedagógico capaz de incentivar o crescimento económico de Cabo Verde”.

Atualmente, o Centro Nacional de Artesanato e Design, conta com uma mostra permanente de parte do seu inestimável espólio, onde o público poderá apreciar obras de tecelagem e tapeçaria, instrumentos musicais tradicionais, panaria, olaria e alguns artefactos utilizados na produção das peças.

Aos jovens artesãos, Manuel Fortes aconselha muita dedicação e motivação, pois como afirma, “por vezes querem-se resultados rápidos, o que nem sempre é possível obter, mas se acreditarem no que fazem e procurarem a melhor forma de aperfeiçoar, promover e rentabilizar os produtos que criam, mais tarde ou mais cedo, os resultados esperados serão alcançados e o Centro Nacional de Artesanato e Design, estará sempre aberto para os ajudar a atingir esse objetivo”.

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