17 Mar 2021
Domingos Lopes da Costa
Chamo-me Domingos Lopes da Costa. Tenho só o ape- lido do meu pai. A minha mãe era a Rosinda Mendes. Estou muito velho. Nasci em 1940. Vim no contrato em 1965 no paquete Kwanza. Era um barco de guerra alemão que ficou pertence do Estado português. Trouxe muitos cabo-verdianos para São Tomé e Príncipe.
Vim para cá porque não havia trabalho em Cabo Verde. Apesar de Cabo Verde viver da emigração, aos emigrantes que vieram para São Tomé e Príncipe não lhes é dado valor. Os emigrantes que deram o melhor da sua vida aqui em São Tomé, quando chegam a Cabo Verde, são desprezados. Se estivessem estado emigrados noutros países, como Portugal, Holanda, França ou Estados Unidos da América, aí o seu valor era diferente. Esses são respeitados e têm até alguns privilégios. Nós somos vistos como uns coitados. Talvez porque os outros, quando chegam à sua terra, levam dinheiro para as famílias e constroem casas bonitas. Nós aqui não temos condições para podermos fazer isso. A maioria de nós é miserável. Foi o que nos calhou em sorte.
Quando cheguei a São Tomé e Príncipe, vim diretamente para Monte Café. Aqui é a minha casa.
Assisti à independência de São Tomé e Príncipe. Na altura correu tudo bem. O problema foi depois. Mas não gostava de falar nisso, pois sou cabo-verdiano e, apesar de viver aqui há muito mais tempo do que vivi na minha terra, para todos os efeitos, sou um estrangeiro e penso que fica mal a alguém de fora estar a falar da casa dos outros.
Roça Monte Café – São Tomé