31 Mai 2013
Dani Santoz – Música, reflexo de vivências antigas
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Nasceu em Espargos, na Ilha do Sal. A avó, enfermeira de profissão, era uma pessoa muito conhecida na vila, o que permitiu que ainda muito novo partisse com os pais para Boston, nos Estados Unidos da América, onde uma nova vida aguardava a jovem família. Ali permaneceu durante dez anos. Regressou a Cabo Verde para completar os estudos académicos no Sal…mas a música já lhe ocupava a alma.
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Com o patrocínio da Câmara Municipal do Sal, Dani Santoz agarrou a oportunidade de gravar uma música nos EUA. Apesar de ter achado a experiência interessante, na altura a sua grande preocupação era poder pesquisar e aprofundar os seus conhecimentos musicais e praticar bateria, o instrumento que na altura mais o fascinava.
Os NaCl e a época Pimp’s
Dani Santoz regressou dessa experiência enriquecedora com vontade de formar a sua própria banda musical. Nasciam assim os NaCl, nome retirado da fórmula química do cloreto de sódio – o sal – numa homenagem à ilha de onde todos eram originários. Os NaCl tocavam essencialmente r&b e rock. Dani, para além de tocar bateria, compunha as músicas e as letras da banda.
Em 2003, volta a estúdio para gravar um tema musical que tinha composto nos EUA e que se tornou num enorme êxito nesse verão em Cabo Verde. Fruto do sucesso e do reconhecimento alcançado, Dani Santoz resolveu dedicar-se de alma e coração à composição musical e à escrita dos seus temas. Esta época marcou igualmente o início da sua interpretação de alguns artistas que apreciava e o inspiravam, tais como Bius, Tito Paris e Boy Ge Mendes. Foi nesse período que se revelou como Pimp’s e que criou a banda que ainda hoje o acompanha.
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Sobre o seu estilo musical, Dani Santoz é perentório ao afirmar que canta o que gosta, “daí que seja difícil enquadrar os temas em determinado género musical. É uma mistura das minhas vivências, entre o meu passado nos EUA, com o r&b e as músicas latino-americanas a assumirem destaque, mas são também os ritmos fortes da precursão, fruto de uma formação em bateria que realizei no Rio de Janeiro. Depois tem o jazz, que é também uma das minhas fontes de inspiração. Como tal, a música que faço resulta um pouco de todas estas vivências”, revela o autor.
Novos tempos, novas dinâmicas
Dani Santoz faz parte de uma nova vaga de músicos e compositores cabo-verdianos de excelência. Comparativamente aos compositores mais antigos, “esta nova geração, fruto das várias influências musicais que facilmente chegam até Cabo Verde, é mais elaborada nos acordes das suas músicas”, diz o compositor e adianta que, “também ao nível da escrita há diferenças: antigamente os compositores valorizavam mais as histórias do dia-a-dia e as belezas da terra, no entanto, eles foram a base para o que de bom se está agora a fazer no panorama musical nacional”.
A mudança que se tem vindo a registar na música cabo-verdiana não é apenas ao nível da composição e da escrita dos temas musicais; também se estão a registar alterações significativas ao nível dos instrumentos utilizados, com a eletrónica a assumir cada vez mais predominância perante os instrumentos ditos tradicionais. Esta alteração no estilo das músicas está, segundo Dani Santoz, “relacionada com questões financeiras, uma vez que é muito mais simples e económico um músico levar um sintetizador para estúdio, que uma banda de músicos. É obvio que qualquer músico em Cabo Verde prefere gravar com os instrumentos tradicionais, tal como antigamente se fazia, mas os custos que isso envolve têm feito com que muitos optem por soluções mais simples. Como tal, tem-se utilizado, cada vez mais, a eletrónica nas músicas cabo-verdianas, o que acaba por retirar muitas das características particulares de execução que muitos músicos revelavam, o que faz com que, a determinada altura, as sonoridades sejam todas muito parecidas”, desabafa o músico.
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As dificuldades financeiras em arranjar mecenas e patrocinadores para os seus trabalhos, leva a que muitos músicos cabo-verdianos tenham, em paralelo com a atividade musical, outras atividades profissionais que ajudam a complementar os seus orçamentos. Esta necessidade deve-se, segundo Dani Santoz, “à dimensão do mercado nacional, que é incapaz de absorver tantos talentos que todos os anos se revelam. Além das atuações em espetáculos e da venda dos discos, ainda é necessário que o músico cabo-verdiano possua outra atividade que apoie e complemente o seu rendimento. Cabo Verde é um país pequeno, com poucos habitantes e parcos recursos financeiros, como tal, ainda é impossível fazer com que o mercado musical seja autossustentado. Ou o artista se internacionaliza e abre novos mercados para atuar e vender as suas obras, ou acaba estagnado”, expressa o músico e compositor.
Estas limitações económicas que muitos autores têm vindo a experimentar no momento de iniciarem os seus trabalhos, encontraram recentemente num projeto do Ministério da Cultura um incentivo para quem pretende criar e acredita no potencial da sua obra: o Banco da Cultura. Esta instituição gere um dos mecanismos que o atual executivo governativo cabo-verdiano encontrou para que os artistas, sempre que pretendam criar, se consigam financiar. Para Dani Santoz, “esta é uma das boas iniciativas do atual ministro da cultura, que tem feito um excelente trabalho, não só no que diz respeito ao fomento da atividade musical, como também relativamente a outras atividades culturais. Também a possibilidade de se poder viajar para as comunidades na diáspora apenas com um passaporte de serviço é bastante facilitador na promoção e divulgação da atividade dos artistas nacionais além fronteiras”.
Carreira musical feita de bons sinais
“Bom Sinal” é já o segundo trabalho discográfico do autor. Trata-se de um disco mais maduro que o álbum de estreia “Nha alma já revelá” onde Dani Santoz mistura vários estilos, ritmos e sonoridades. “Foi um trabalho que demorou dois anos a ser preparado, com muitos contratempos pelo meio… até que finalmente consegui colocar o projeto em marcha. Daí o título do álbum ser precisamente Bom Sinal“, refere o compositor.
É um disco que fala da mulher, do amor, das relações pessoais e da realidade atual da humanidade. É, segundo o autor, “um trabalho feito a pensar nos nossos jovens – o que se revelou uma boa aposta, pois há cada vez mais jovens a mostrarem interesse pelas letras das minhas músicas, o que me deixa muito feliz e faz com que um dos objetivos do trabalho tenha sido plenamente alcançado: sensibilizar a juventude para muitos dos problemas atuais da sociedade sem nunca esquecer o lado afetuoso da vida humana”.
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Sobre o próximo álbum, Dani Santoz diz que ainda é cedo pensar nisso; a preocupação, para já, “é continuar a promover este Bom Sinal através dos espetáculos ao vivo que, felizmente têm aparecido, quer cá em Cabo Verde, quer um pouco por todas as nossas comunidades na diáspora. Depois é atuar nas nossas festas populares um pouco por todas as ilhas de Cabo Verde: Fogo, São Vicente, Praia e claro, o Sal”. Para breve, Dani Santoz está já a preparar um projeto musical com a cantora cubana Haila que inclui a gravação de um tema em Cuba.
Desejos a longo prazo? “Ter mais tempo para compor e escrever e poder viver apenas da música merecendo o reconhecimento de todos os cabo-verdianos, quer dos que se encontram no arquipélago, quer dos que estão espalhados por essa imensa comunidade.”