Ateliê de Bordados — Incentivar e potenciar o artesanato local
09 Ago 2016

Ateliê de Bordados — Incentivar e potenciar o artesanato local

As rendas e bordados são uma das principais atrações do artesanato tradicional da Ilha Brava. Como forma de incentivar e promover esta atividade, a Câmara Municipal construiu, no centro da cidade de Nova Sintra, um ateliê de artes e ofícios. Divulgar os trabalhos produzidos e motivar o interesse de novas artesãs é, para já, o grande objetivo deste espaço.

 

Ateliê de Bordados da Brava

Lena de Pina, Bela Baptista Borges e a aprendiz Alice estão concentradas a trabalhar em mais um jogo de naperões de cozinha que, depois de terminados, irão embelezar a mesa de uma família da Brava. As rendas e bordados da Ilha Brava são famosas em todo o Cabo Verde. Fruto da dedicação e das muitas horas de trabalho, as artesãs da Brava têm vindo, ao longo dos anos, a contribuir para o embelezamento de muitas das casas da seu país e da diáspora cabo-verdiana espalhada pelo Mundo. Para que esta tradição não caia no esquecimento, a Câmara Municipal da Brava, em parceria com algumas artífices locais, construiu um ateliê para a produção e divulgação deste típico artesanato da ilha.

Lena, Bela e Alice são todas naturais da Ilha Brava. Em comum, têm o gosto pelas peças que, com dedicação e carinho, produzem. Numa ilha onde o emprego escasseia, esta é uma excelente oportunidade de mostrarem a sua arte e, com ela, contribuírem para o orçamento familiar. Lena e Bela são casadas e mães, por isso, esta atividade é um forte auxílio à sobrevivência financeira das suas famílias.

Produzir um conjunto de seis peças de mesa é um trabalho moroso. Um bom executante pode levar até três dias a completá-lo, como tal, o rendimento obtido da atividade não é muito, mas é importante. O custo das matérias-primas, como as linhas e as agulhas que são todas importadas, é a principal dificuldade das artesãs. Como têm de comprar os material de forma avulsa, o seu custo é mais elevado, o que, naturalmente, também se reflete no custo final das peças. Reclamam por isso alguns apoios institucionais que lhes permitam financiar a aquisição de materiais de produção em maiores quantidades, facilitando-lhes desta forma a obtenção de uma maior margem de lucro sobre as peças produzidas. Contudo, também reconhecem que não é fácil aos Organismos Estatais financiarem todas as atividades, sentindo-se já satisfeitas pela cedência do espaço que a Câmara Municipal da Brava lhes proporcionou. Este espaço, embora pequeno, é a sua grande montra. É nele que trabalham diariamente e é nele que exibem as peças produzidas.

Ateliê de Bordados da Brava

A jovem Alice interrompe o ponto de cruz que estava a fazer. Está com algumas dificuldades em executar o remate final. Prontamente, Bela acerca-a e explica-lhe detalhadamente como tem de realizar a operação. Uma das grandes preocupações de Bela e Lena é ensinarem ao maior número de mulheres bravenses este ofício. Mais mulheres a trabalhar os bordados e rendas da Brava significa uma oportunidade em se poderem associar e, desta forma, fortalecerem a classe.

A falta de organização das mulheres em torno desta atividade tem levado, nos últimos anos, a que se tenham perdido algumas oportunidades, nomeadamente ao nível da divulgação e da visibilidade dos produtos manufaturados. Até agora, a sua divulgação é feita de boca-a-boca ou, através de contactos que são mantidos com alguns revendedores noutras ilhas do arquipélago.

Embora as peças de artesanato se vendam durante todo o ano, é na altura das festas do município que atingem o pico de vendas. Os bravenses emigrados e que habitualmente visitam a ilha nesta época do ano são, os principais clientes. As peças chegam assim aos Estados Unidos da América e à Europa contribuindo desta forma para diminuir um pouco das saudades que os emigrantes sentem quando estão longe de Cabo Verde. São, aliás, os emigrantes, a par com alguns turistas, os grandes embaixadores do artesanato nacional.

Ateliê de Bordados da Brava

O desejo destas artesãs é que o futuro traga mais reconhecimento ao trabalho que executam. Melhores esclarecimentos por parte das autoridades quanto aos mecanismos existentes para apoiar a atividade é outro dos anseios de Bela e de Lena. Apesar de terem conhecimento da existência do Banco da Cultura, nunca ninguém as abordou com vista ao esclarecimento das muitas dúvidas que dizem ter.

Acreditam que, o seu futuro e o de muitas mulheres bravenses, irá continuar a passar pela produção de artesanato e, como tal, reivindicam mais atenção pois, para elas o artesanato é a única forma que têm para ganharem a vida e contribuírem para os parcos rendimentos familiares. Através das suas rendas e bordados, estas mulheres sentem oportunidade de poderem demonstrar o seu real valor e, desta forma, contribuírem para o reconhecimento do empenho e dedicação dos cabo-verdianos em outros países do Mundo.

Ateliê de Bordados da Brava


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