Chico Serra – A música que conquista liberdades

Chico Serra – A música que conquista liberdades

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Francisco Coelho Pereira Serra nasceu na Praia em 1947. Com apenas dois meses de idade, foi levado pelos pais para o Mindelo, onde ainda hoje reside. Começou a tocar piano precocemente, aos 4 anos, por influência da família, que estava ligada à música. Nunca frequentou conservatórios ou academias: aprendeu a tocar apenas de ouvido, de forma autodidata. O pianista e compositor, foi um dos participantes ativos no movimento de intervenção da música cabo-verdiana.

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Chico SerraNa sua adolescência, Cabo Verde era uma colónia do regime, com a presença constante da tropa portuguesa. “À medida que fui crescendo, ouvia falar de política, da guerra na Guiné e da luta de libertação. Em 1966, ouvia, às escondidas, as notícias emitidas pela rádio clandestina e tudo o que se estava a passar, em Bissau. Em 1968, quando fui para a Holanda tocar, o meu empresário, era o responsável pelo PAIGC naquele país, começou a inteirar-me da política e dos ideais da luta de libertação.”

Assistiu ao 25 de abril em Cabo Verde. Recorda que “nessa altura, havia uma grande movimentação, especialmente da juventude. Em 1974, eu tinha 25 anos e trabalhava na junta autónoma da distribuição de água na cidade do Mindelo. Também fazia parte de um grupo musical, mas havia sempre um certo receio, porque nunca sabíamos quem é que andava atrás de nós. Um grande amigo dos EUA, gravou um disco de música de intervenção e conseguiu fazê-lo chegar até nós. Ouvíamo-lo às escondidas. Só após a independência é que essas músicas começaram a ser transmitidas na rádio.” Fruto dessa inspiração, Chico Serra gravou, em 1969, uma morna que passou a ser o tema de abertura da Rádio Libertação, em Guiné-Bissau.” Conforme recorda, “antes da independência era extremamente difícil compor algo que fosse contra as ideias  do regime, pois, além da censura, havia perseguições. Após da independência, começaram então a aparecer muitas músicas de intervenção. Lembro-me de uma composição que, apesar de nunca a ter gravado, foi um grande sucesso, pois foi registada em Portugal anos mais tarde”, recorda.

Para Chico Serra, a música de intervenção teve muita influência na independência de Cabo Verde. “As pessoas ouviam-na através da Radio Libertação e muitos que a cantavam, nem se apercebiam do que estavam a dizer, no entanto a mensagem passava e moldava e alertava para as injustiças que todos os dias vivíamos”.

12- Chico Serra - Revista Nos Genti -A quando da independência nacional, “dizia-se que Cabo Verde era um país inviável. No entanto, apesar do arquipélago ter crescido, ainda existe o risco de regressão”, afirma o músico. “Tem de se investir nos recursos que temos. A pesca é um bom exemplo. As pessoas têm que interiorizar que, para se conseguir qualquer coisa nesta vida, é necessário muito esforço e trabalho. A juventude não pode pensar só em arranjar emprego”, diz.

O turismo é outro dos grandes potenciais e fonte de receitas de Cabo Verde, “embora as praticas do operadores turísticos que atuam atualmente no país, não nos favorecem em nada: o turista chega ao hotel, dão-lhe aquela pulseira e oferecem-lhes tudo dentro do espaço. Não há necessidade de saírem dos complexos turísticos. Se viessem cá para fora, encontrariam restaurantes com música ao vivo e com comida cabo-verdiana típica. Ajudavam ao crescimento económico do país e conheciam a nossa cultura tradicional. Cabo Verde precisa da indústria turística para se desenvolver, mas não nos moldes atuais”, lamenta o músico e compositor. O progresso de Cabo Verde nos últimos 37 anos também trouxe consigo malefícios sociais. O músico garante que, “gostaria de ver Cabo Verde com fábricas, para dar trabalho aos cidadãos. Os nossos governantes que revejam a lei de investimentos em Cabo Verde, porque quem aqui chega, paga o que quer, sem que haja uma lei que estipule um vencimento mínimo aos cabo-verdianos, que, há semelhança do tempo colonial, também agora são explorados”, e adianta que “tem de aparecer investimento para dar trabalho aos jovens. São necessárias mais escolas e formação profissional. Há que definir novas regras e os partidos políticos têm de se alinhar, definindo-as para bem do nosso futuro.”

Para Chico Serra, “Cabo Verde é hoje um país verdadeiramente democrático, embora ainda haja muito a corrigir. Existe tolerância política e cada um é responsável pelo que diz”. Contudo, adianta que “a justiça poderia funcionar melhor, de forma mais célere e eficaz, para que os casos mais simples não fiquem eternamente a aguardar a resolução dos mais complexos. Conclui dizendo que “há ainda em Cabo Verde muita influência da herança colonial e da educação que tivemos, mas passados estes 37 anos, voltaria a fazer as mesmas músicas de intervenção com o mesmo prazer, pois o nosso povo merece a liberdade que conquistou”.

3 Comments
  • María Crescencia Ramos
    Posted at 04:17h, 07 Maio

    Desde pequeña te escuchaba tocar el piano en la casa de dinha Georgina Serra y Daniel Cohen, nunca olvide esos momentos de tus clases de piano, me encantaba escucharte, eres muy pequeño, estuve en San Vicente con mi esposo, tratamos de verte con mi primo Felix Rocha, pero no pudimos verte, siempre trato de escuchar tu música por internet. Un gran saludo, soy tu primera admiradora, gracias por todo.

  • Rui Fernandes
    Posted at 10:43h, 28 Janeiro

    Caro Chico,
    Por mero acaso, cheguei a esta página onde tenho o grande prazer em te rever. Relembro os bons tempos de Lisboa no Lar D. Dinis e das festas que abrilhantaste com o teu piano inconfundível..
    Um forte abraço desde Maputo,
    Rui Fernandes

  • goly amado
    Posted at 23:37h, 17 Setembro

    Primeramente desejo te saude e muitas felicidades na tua vida.chico eu como teu seguidor venho hoje a dizer te que fico bastante obrigado por tudo que fizestes a nossas culturas de caboverde,porque as tuas lindas letras nas mornas e coladeras fica sempre nas nossas coracoes,para mi eu fico contente cuando chego a casa sento e ouvi uma morna de caboverde,aconpanhado com luis o com voz de ildo bana cizaria em fim musica antigas que nunca sai ddas nossas culturas,eu sou da ilha do fogo vivo no estranjero,mas melhor musica para eu ouvir e de caboverde,com muito orgulho eu desejo te saude e muitas paz na tuas vida,

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